sábado, 8 de setembro de 2007

O perigo atômico

O fim da Guerra Fria não pôs fim à corrida armamentista, como poderíamos acreditar. Hoje paira uma ameaça ainda maior sobre o planeta: o acesso à bomba atômica se tornou acessível a países pobres, e não exclusivamente a um rol de nações com dinheiro e cientistas para consegui-la.

Atualmente um terrorista internacional pode obter urânio enriquecido em regiões da Rússia, aproveitando que algumas cidades secretas, erguidas nos tempos da ex-União Soviética, e ainda existentes, abrigam um poderoso arsenal atômico e agora se mantêm vulneráveis após a implosão do comunismo.

William Langewiesche, editor internacional da revista
Vanity Fair, investigou esse perigo em potencial e de sua pesquisa nasceu o livro O bazar atômico, recém-lançado no Brasil.

Langewiesche revela como qualquer país pobre do planeta pode hoje tentar dispor de uma bomba atômica, valendo-se do comércio ilegal e de conhecimento. Possuir um artefato atômico seria a garantia de defesa para esse “pobrerio”, na expressão de Langewiesche, contra a intimidação de nações mais fortes, como os Estados Unidos.

Langewiesche concedeu entrevista radiofônica à NPR.
Abaixo o trecho inicial da conversa disponível no site da emissora:

Como parte da reportagem para o livro, você visitou alguns dos locais onde o urânio enriquecido poderia estar concentrado na Rússia?


Sim, visitei. Existem, como você sabe, 10 cidades secretas a oeste dos Montes Urais, na Rússia, onde o arsenal nuclear soviético foi construído. Essas cidades ainda existem. E ainda são cidades fechadas. Você não pode entrar nelas. Estive lá, como se tivesse em mente um plano terrorista, para investigar se seria difícil conseguir urânio altamente enriquecido.

Só para ficar mais claro, pois alguém que está ouvindo pode pensar: ele está fornecendo um guia para terroristas. O que você está tentando explicar?

Pode até ser um guia. Por outro lado, me garantiram diversas vezes que minhas descobertas são já bem conhecidas em todo o mundo. Um sujeito me disse que eu estava lidando com um nível de informação básica, digna de condecoração por mérito, como se eu fosse um escoteiro. E infelizmente existe informação suficiente para criar uma bomba.

Então você foi até os Montes Urais, na ex-União Soviética, e está tentando pensar como um terrorista. Você tem conhecimento de que em algum lugar naquelas cidades proibidas existe urânio altamente enriquecido. E que você precisa de cerca de 100 libras desse urânio. Que opções você teria?

Bem, há duas opções. Você pode atacar com um comando relâmpago e roubá-lo com mais calma. Mas a idéia de um comando relâmpago não é das melhores, por uma razão: aquelas cidades são bem protegidas. OK, são protegidas por tropas que podem estar bêbadas, ou drogadas, com todo o tipo de problemas morais, mas ainda assim elas podem atirar. E fazer barulho.

O problema maior é que, se você fizer barulho, se você usar um comando para atacar, você terá de fugir do local. E você tem centenas de milhas para percorrer, e poderá ser interceptado. Você terá de conseguir o material físsil de tal forma que os russos não descubram, pelo menos por alguns dias ou talvez nunca.

E como seria o caminho mais prático? Agir por dentro?

Agir por dentro, corrupção. E existe bastante corrupção na Rússia, naturalmente. Mas não é assim tão fácil. Não há muitos estrangeiros naquele lado do mundo. Você seria notado.Você não pode simplesmente chegar e corromper alguém. Isso é algo que tem de ser feito através de intermediários russos, porém é um processo difícil.

Nenhum comentário: