terça-feira, 27 de novembro de 2007

Futebol, tragédias e memória


Faltou à mídia uma pitada de pesquisa histórica sobre a tragédia da Fonte Nova, ocorrida no último domingo, quando 7 torcedores morreram e cerca de 60 ficaram feridos. Essa não foi a primeira vez que o estádio foi palco de sangue, suor e lágrimas. No dia 4 de março de 1971, a Fonte Nova foi reinaugurada. Os dois jogos marcados para a ocasião atraíram um público estimado de 112 mil pessoas. A capacidade oficial era de 96.640.

No primeiro jogo, o Bahia venceu o Flamengo por 1 x 0. Eram 19h quando prosseguia o segundo jogo, com o Vitória empatando com o Grêmio em 0 x 0.

De repente, um boato de que o estádio estava desabando. Foi o estopim para que os torcedores assustados começassem a pular das arquibancadas superiores para a parte de baixo.

Saldo da tragédia: 2 mortos e 2.068 feridos.

A Fonte Nova permaneceu fechada por algum tempo, e naquele ano o Bahia precisou se deslocar até Aracaju para disputar o campeonato nacional. Sua nova casa seria o Batistão, na época um dos maiores estádios de futebol do Norte-Nordeste.

Este blogueiro, então um moleque de calças curtas, torceu e sofreu pelo clube baiano, que vivia uma de suas melhores fases. Eu vi Baiaco infernizar algumas das defesas mais poderosas da época. E vi ainda Douglas e Zé Pequeno, eternamente gravados na galeria dos grandes craques do Bahia.

A Copa de 1970 acontecera um ano antes. Os campeões do México estavam todos bem ali, em atividade, atuando por seus times. O futebol brasileiro vivia em estado de graça. Eu vi Tostão, vestido com elegância no uniforme azul e branco do Cruzeiro – memória, não estarei equivocado? –, driblar uma seqüência de adversários e meter a bola com perigo num impossível espaço na pequena área.

E vi e me decepcionei com Rivelino, o “canhão da copa”. Estrela do Corinthians, Rivelino investia no ataque como que possuído por uma fúria de dançarino flamengo. Lá pelas tantas, uma falta nas imediações da grande área. Barreira, firulas, bola ajeitada. E Rivelino se prepara para a cobrança. Suspense absoluto. A voz de trovão do locutor da emissora de rádio valoriza o instante. Rivelino corre. O chute pegou na bola por baixo. Venceu a barreira. Subiu. Um pouco mais alto. E mais alto. E voou sobre a trave, e o que veio depois eu já não me lembro. Mas sei que, naquele pequeno ato, naquele chute desperdiçado, revelou-se, aos olhos do menino, a falibilidade dos heróis.

A tragédia da Fonte Nova ainda estava viva na memória, como um fantasma ameaçador em estádios superlotados. E o Batistão vivia seus dias de glória. E foi numa dessas partidas, no meio de uma tarde – seria sábado ou domingo? -, que aconteceu outro quase-desastre. Um refletor estourou, e foi assim como num piscar de olhos, como uma senha para a fuga: a multidão disparando em todas as direções, como um rebanho sem controle. Fui salvo pelo reflexo do pai, que me segurou pela camisa.

Foram apenas segundos, mas é quase como uma eternidade. O sangue quente e a tensão que latejava nas têmporas. O coração em descontrole. As pernas bambas de pavor.

Constatado o engano, tudo voltou ao normal. Veio o momento da partida. Mais emoções naquela tarde longínqua. 1971. O futebol ainda não era sinônimo dessa violência gratuita. Doce lembrança.

Foto: Correio da Bahia

domingo, 11 de novembro de 2007

O adeus do grande rebelde


"Norman Mailer dedicou toda sua vida a perseguir o romance definitivo e essa busca o levou a escrever quase 40 obras entre ficção, ensaio, biografias, poesia e teatro, além de centenas de artigos. Seu talento foi reconhecido com quase todos os prêmios literários, incluídos dois Pulitzer por Os exércitos da noite e A canção do carrasco, ainda que nunca tenha conseguido o ansiado Nobel."

"Elogiado e vilipendiado por igual, seu nome não pôde separar-se dos confrontos políticos nos Estados Unidos das últimas seis décadas, nos quais sua voz serviu de açoite contra os excessos do governo na era McCarthy e da consciência coletiva durante a guerra do Vietnã, e também de agitador em movimentos como o feminista. Sua pena brilhante está unida ao nascimento do chamado novo jornalismo, a corrente que no fim dos anos sessenta aplicou o ardor narrativo de romance ao relato da não-ficção, transformando o panorama literário nos Estados Unidos."

Em dois parágrafos sucintos, O El País resume a importância do escritor Norman Mailer no cenário literário e político dos Estados Unidos, sobretudo nos anos 60, quando ele despontou como um dos grandes rebeldes da vida americana.

domingo, 21 de outubro de 2007

O DNA ao alcance de um clique


Com a promessa de tantas convergências para um futuro não muito distante, mais uma tem sido anunciada: a da tecnologia com a biologia.

Esse cenário está sendo vislumbrado por Craig Venter, um pioneiro nos estudos da genética.

Ao participar dum fórum sobre tecnologia, Craig Venter trouxe a novidade: poderemos mapear nosso DNA mediante uma simples pesquisa no Google.

O serviço está longe de ser oferecido gratuitamente. A cifras atuais, custará algo como U$ 300 mil. Isto, segundo Craig, por causa do atual nível dos processadores. Porém, com o avanço veloz da tecnologia, os custos tendem a baixar.

Em termos de ganho para a saúde, a importância desse cruzamento é inegável: poderemos conhecer de antemão nossas predisposições para desenvolver doenças no futuro. E isso vai implicar diretamente na qualidade e controle da saúde dos rebentos.

Para Craig Venter, essa possibilidade não está muito distante.

Contudo, o recurso traz novos desafios quanto à segurança, pois a privacidade das informações estará em risco. É o eterno preço da virtualidade.

O fantasma da fome


O livro acima, cuja tradução do título é “Nutrir a humanidade”, foi escrito pelo economista e engenheiro francês Bruno Parmentier, atual diretor da École Supérieure d´Agiculture d´Angers, na França.

Há muito tempo ele se dedica a pesquisar o futuro da alimentação. Depois de publicar o livro, se tornou uma celebridade.

Bruno Parmentier exibe pouco otimismo sobre o que nos espera lá na frente.

“A população deverá se estabilizar entre 9 e 10 bilhões de pessoas. Significa que acolheremos no planeta um bilhão de novos asiáticos, cerca de 800 milhões de novos africanos, 400 milhões de novos latino-americanos. Então temos de nos colocar a questão: haverá alimento para todos?”, indaga ele em entrevista concedida à jornalista Laura Greenhalgh, do Estadão.

Essa preocupação de Bruno Parmentier parece ressoar velhas teses malthusianas sobre o crescimento exponencial da população. Mas sua análise inclui novos ingredientes à ameaça da fome ao futuro do planeta, como as agressões ao meio ambiente e os modelos econômicos.

A entrevista completa de Bruno Parmentier pode ser lida aqui.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O brasileiro e a informação


"A internet já se tornou a fonte primária de informação para 7% dos brasileiros, segundo pesquisa recém-divulgada pelo Pew Research Center, aqui de Washington.

Já ultrapassou o rádio (4%), as revistas (1%) e não está distante dos jornais impressos (12%).

Segundo a pesquisa, a televisão é a fonte primária de informação para 76% dos brasileiros.

Combinando a fonte primária e a secundária, os números mudam.

A televisão salta para 92%, os jornais para 51%, o rádio para 32%, as revistas sobem para 4% e a internet também aumenta seu alcance, para 16%.

A pesquisa justifica investimentos como o canal gratuito de notícias da TV Record, a possível abertura do sinal da Globonews bem como uma emissora pública de alcance nacional - formas de ampliar as fontes de informação dos brasileiros.

O país em que a internet tem maior importância como fonte primária de notícias é a Coréia do Sul, com 20%, seguida da República Tcheca com 19%, os Estados Unidos com 17%, a Eslováquia com 15%, a Suécia com 14%, Israel e o Canadá com 11%, a Alemanha com 9% e a França e Itália, com 8%".

No site Viomundo, de Luiz Carlos Azenha.

domingo, 7 de outubro de 2007

Marla Olmstead e os dilemas do cinema documentário


Aqueles que lidam com documentário sabem que a questão ética é o calcanhar de Aquiles da representação nesse gênero. E que por trás da própria idéia de representação reside uma das mais ferrenhas controvérsias nesse tipo de cinema. Como saber se a fonte do documentarista, posta diante da câmera, não está mentindo, não se transforma, por vaidade ou presunção, em personagem de si mesmo? Se dentro da própria noção de real não estão se insinuando as tentações da fabulação?

Uma polêmica em andamento nos Estados Unidos tem contribuído para incrementar esse debate em torno da ética no documentário. Amir Bar-Levi é um cineasta californiano e acaba de finalizar seu segundo longa metragem, My kid could paint that. O tema do doc é a menina Marla Olmstead, de 4 anos, que se transformou num fenômeno de mídia ao demonstrar uma habilidade para pintar quadros de forma parecida com grandes pintores, como Picasso, Kandinski e Jackson Pollock. Marla acabou vendendo mais de US$ 300 mil em pinturas.

Em 2004, quando o caso estava em plena evidência, Amir Bar-Lev procurou os pais de Marla e propôs contar a história da menina. Os pais aceitaram, e tudo estava indo bem até que, um ano depois, uma equipe de TV do programa “60 minutes”, da rede CBS, decidiu fazer uma matéria sobre Marla e levantou a hipótese de que tudo não passava de uma fraude. O próprio pai, um pintor amador, é que fazia os desenhos, de acordo com a reportagem, e a menina estaria sendo explorada para fins financeiros. Amir Bar-Levi, já com o seu filme em andamento, viu-se então tragado por um mistério e encurralado por um dilema ético.

Com a chegada do documentário ao circuito comercial, o assunto voltou a ocupar os holofotes da mídia. O repórter Andrew O'Hehir fez uma longa entrevista com Amir Bar-Lev para a revista Salon. O cineasta contou que conseguiu convencer o casal Olmstead a fazer o filme, embora no início tivesse sido questionado se o mesmo seria necessário, pois já havia muita publicidade em torno do assunto. O argumento de Amir foi que o filme “atingiria uma verdade mais profunda, e eles ficariam felizes em mostrar essa verdade aos filho no futuro”.

Inicialmente, segundo Andrew O´Hehir, Amir Bar-Levi acreditava que o filme trataria de uma família americana e seu desejo de aparecer na mídia, por escolha ou por acidente, e da incompreensão e hostilidade do público perante a arte moderna. E, obviamente, do objeto de toda essa história: Marla e seu talento. Com as suspeitas levantadas pelo “60 minutes”, as coisas não foram tão fáceis assim. No final, o filme acabou deixando as conclusões no ar. Quem assistir poderá chegar ao seu próprio veredicto: se Marla é uma fraude ou um gênio artístico. Bar-Levi revela ao seu entrevistador que ainda tem dúvidas, mesmo depois de dois anos envolvido no caso.

Andrew O´Hehir tenta apimentar o debate ao evocar as reflexões da jornalista Janet Malcom sobre ética no jornalismo. Há alguns anos, ela escreveu o livro O jornalista e o assassino (publicado no Brasil pela Companhia das Letras) no qual analisa uma situação em que um jornalista acaba traindo sua fonte, após conquistar sua confiança. À luz dessa traição, Janet concluiu que qualquer jornalista que não for suficientemente tolo ou auto-indulgente deve saber que sua postura é moralmente indefensável. A analogia, no imbróglio dos Olmstead, é se Amir Bar-Levi traiu a confiança da família, ao deixar no ar em seu documentário a possibilidade de engodo. Bar-Levi tenta resumir a coisa toda: “Eu pus minhas dúvidas e suposições, e isso é tudo o que tenho a dizer”. A atitude de Amir Bar-Levi poderia ser enquadrada na categoria de “moralmente indefensável”? Com o filme em exibição na tela grande, a polêmica tende a se avolumar.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Paraíso liberado


E você acha que se prostituir é algo errado?
De maneira alguma! É o meu corpo e eu faço o que eu quiser com o meu corpo. Para mim, as únicas coisas erradas são roubar e matar. Nunca tive vergonha de assumir ser prostituta. Mas tem uma diferença: tive coragem de mostrar quem eu era porque saí da casa dos meus pais com 17 anos, não tive essa preocupação de “o que é que meus pais vão pensar em relação ao que estou fazendo?”. As meninas geralmente escondem o rosto porque escondem da família e dos amigos o que fazem.

A maioria das meninas se prostitui por vontade própria ou porque não têm outra opção?
Porque quer. Isso é um tabu muito grande. As pessoas pensam que as meninas são todas coitadinhas, que não tiverem educação, não têm apoio da família, etc. Mas, durante os três anos em que me prostitui, trabalhei com muitas mulheres e, conversando com elas, eu senti que elas se prostituíam porque queriam, porque tinham vontade, para unir o útil ao agradável. Elas gostavam de fazer sexo e gostavam do dinheiro que o sexo proporcionava.

O que você acha do turismo sexual e dos homens que vão ao Brasil em busca das mulheres? Deveria ser algo proibido?
Acho que não deveria ser proibido. Considero isso normal, acho que, se fosse o contrário, se aqui fosse proibido – ou considerado pecado – o homem sair com uma garota de programa, com certeza os brasileiros iriam procurar outro país mais libertário em relação ao sexo. Mas há um detalhe sobre o turismo sexual aqui no Brasil: em razão do sexo (o valor do programa) ser muito barato aqui quando comparado aos países europeus. Então é por isso que aqui um europeu ou um americano acaba “fazendo a festa”, simplesmente porque sai muito barato para eles. Posso dar o meu exemplo: eu cobrava R$150 por hora. Isso, na época, era 50 euros. Imagina, 50 euros para fazer sexo é muito barato, praticamente de graça. E é isso que chama muito a atenção aqui também: o preço barato.

Bruna Surfistinha na revista Jungle Drums.

Passaporte para a América



Sabe aquele sonho de um dia estudar nos Estados Unidos? Pois ele está aqui. A Universidade de Berkeley, uma das mais famosas na terra do Tio Sam, entrou na era da educação online.

Detalhe: via You Tube.

Mais de 300 horas de aula já foram disponibilizadas. Com a iniciativa, Berkeley é a primeira universidade a divulgar cursos completos na Internet.

A UCLA, como é mais conhecida, possui 10 campi espalhados pela ensolarada Califónia. Abriga em seu corpo docente um elenco estrelar de ganhadores do Prêmio Nobel, a maior concentração per capita de nobéis do mundo numa única universidade, segundo a wikipedia.

Portanto, welcome to Berkeley.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Histórias de vida


Rito é pernambucano, mas adotou Sergipe para viver. Um dia ele decidiu ter um negócio próprio. Foi aí que surgiu a idéia de vender livros. O detalhe: livros de autores sergipanos. No começo foi difícil. Porém o negócio ganhou vida própria.

Rivanda é cabeleireira. Quando tentou os primeiros passos na profissão, foi um desastre. Errou na medida e acabou ferindo sua cliente. Rivanda chorou de desapontamento. Mas não desistiu. Hoje segue o ofício.

Careca é um senhor taciturno. Vendedor de artesanato, está há cinqüenta anos na profissão. É tempo demais. Mas essa foi a vida que lhe coube, e que ele segue com altivez. É conhecido como um dos mais antigos no ramo.

Hortência tem sido citada em trabalhos acadêmicos. E já foi até tema de uma matéria do programa Fantástico, da TV Globo. O que a faz ser tão conhecida? Ela entende tudo de ervas medicinais, produtos que comercializa há mais de 30 anos.

Rito, Rivanda, Careca, Hortência. Todos eles labutam de sol a sol no Mercado Central de Aracaju. E têm rios de histórias para contar. Eles são os personagens do documentário Mercado central –histórias de vida, realizado pela TV Balaio de Notícias. Veja acima.

Já se disse que a vida de qualquer pessoa dá um romance. Sem dúvida. A história não é apenas o resultado da ação dos grandes personagens, como quer parecer uma certa historiografia oficial, com foco nos vencedores. A história é produto de pequenas ações, todas elas perpetradas por gente anônima. É a petite histoire dos franceses.

Essa tese ganha força nos inúmeros exemplos cotidianos, como os de Rito, Rivanda, Careca e Hortência. Como eles, há milhões por esses imensos brasis com um mar de histórias para contar. Resta quem possa ouvi-las e torná-las públicas.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O mapa da guerra

Quer saber de que lado o vento está soprando na Guerra do Iraque? O que pensam republicanos, democratas e intelectuais americanos sobre o conflito? E de que maneira eles imaginam que os americanos deixarão o país?

A Slate organizou um localizador, um who´s who da guerra, com informações sobre as posições de Bush, Hillary Clinton, Barack Obama, Christopher Hitchens e outros, informando inclusive quem já visitou e quem jamais pisou os pés no Iraque.

Simplificador, dirão.

E é. Em meio aos "pundits", ou "sábios", que preferi traduzir por "intelectuais", faltam críticos de peso ao bushismo, como Noam Chomsky. Ou jornalistas como Seymour Hersh, uma das raras vozes dissonantes na grande mídia americana a se manifestar contrária à invasão desde o início.

Além disso, o organograma da Slate acaba resvalando num maniqueísmo bem a gosto do imaginário americano: ou você é o mocinho, ou é o bandido.

John Wayne contra os peles vermelhas.

Há, porém, um indicador positivo a ser extraído de uma média das opiniões mostradas no localizador da Slate: é preciso encontrar uma solução para a presença americana no Iraque. E esta não será nada fácil.

sábado, 15 de setembro de 2007

Philip Roth, a política e a literatura

Philip Roth tem medo de morrer. Reclama da velhice. Detesta Bush e os republicanos. Atualmente mais relê do que lê: Joseph Conrad, Ivan Turguêniev. No Brasil, chega o seu novo romance, Homem comum.

O jornalista Sérgio D´Avila o entrevistou para a Folha:

FOLHA - Bem, já que o sr. fez previsões tão acertadas há sete anos nesse campo, deixe-me perguntar de novo: quem o sr. acha que será eleito em 2008?

ROTH - Sim, vá adiante, me dê uma nova chance para eu fazer papel de bobo. [Risos] Não tenho a menor idéia. Não tenho idéia de quem será o candidato democrata e não tenho idéia de quem vai ganhar as eleições.

FOLHA - O sr. não acha que a senadora e ex-primeira-dama Hillary Clinton é uma boa aposta, do lado democrata?

ROTH - [Agora cauteloso] Eu simplesmente não sei...

FOLHA - Ok, deixe-me dizer dessa maneira: se as eleições fossem hoje e ela fosse eleita, o que aconteceria segundo as pesquisas de intenção de voto atuais, o sr. acha que mudaria algo ou seria apenas o final de um clichê, a primeira mulher na presidência?

ROTH - Não, não, não, acho que haveria uma mudança. Isso que temos agora é um desastre. Com os democratas vencendo, teremos de volta a política como sempre. Isso aqui agora é um desastre. Os democratas são muito mais preferíveis do que os republicanos. Vamos falar de literatura?

FOLHA - Vamos. Há sete anos, o sr. reclamou que seus amigos estavam morrendo...

ROTH - [Gargalha] Pois isso não parou de acontecer!

FOLHA - Daí o livro ["Homem Comum" começa com um enterro e o tema principal e doença e morte]?

ROTH - Sim, em grande parte. Foi publicado aqui em 2005. Bem, sim, eu tenho ido a muitos funerais e tenho perdido muitos amigos e eu comecei a escrever esse livro no dia seguinte ao funeral de Saul Bellow [escritor, 1915-2005]. O livro não trata de Saul, mas minha cabeça estava profundamente tomada pela inevitabilidade de que todo o mundo que eu conhecia e conheço vai morrer. Então, sim, escrevi como resposta à morte de meu amigo.

Aqui a entrevista completa (só para assinantes).

sábado, 8 de setembro de 2007

A melhor em Veneza

Cate Blanchett foi escolhida a melhor atriz na 64a. edição do Festival de Cinema de Veneza por sua interpretação de Bob Dylan no filme I`m not there, do diretor americano Todd Haynes.

No filme, Cate Blanchett encarna o cantor em sua juventude. A atriz não foi a Veneza, mas agradeceu o prêmio em uma mensagem.

Cate Elise Blanchett é australiana. Poderia ter levado também o prêmio de mais bela atriz não apenas do festival, mas também de Hollywood atualmente. Escolha do blog.

O perigo atômico

O fim da Guerra Fria não pôs fim à corrida armamentista, como poderíamos acreditar. Hoje paira uma ameaça ainda maior sobre o planeta: o acesso à bomba atômica se tornou acessível a países pobres, e não exclusivamente a um rol de nações com dinheiro e cientistas para consegui-la.

Atualmente um terrorista internacional pode obter urânio enriquecido em regiões da Rússia, aproveitando que algumas cidades secretas, erguidas nos tempos da ex-União Soviética, e ainda existentes, abrigam um poderoso arsenal atômico e agora se mantêm vulneráveis após a implosão do comunismo.

William Langewiesche, editor internacional da revista
Vanity Fair, investigou esse perigo em potencial e de sua pesquisa nasceu o livro O bazar atômico, recém-lançado no Brasil.

Langewiesche revela como qualquer país pobre do planeta pode hoje tentar dispor de uma bomba atômica, valendo-se do comércio ilegal e de conhecimento. Possuir um artefato atômico seria a garantia de defesa para esse “pobrerio”, na expressão de Langewiesche, contra a intimidação de nações mais fortes, como os Estados Unidos.

Langewiesche concedeu entrevista radiofônica à NPR.
Abaixo o trecho inicial da conversa disponível no site da emissora:

Como parte da reportagem para o livro, você visitou alguns dos locais onde o urânio enriquecido poderia estar concentrado na Rússia?


Sim, visitei. Existem, como você sabe, 10 cidades secretas a oeste dos Montes Urais, na Rússia, onde o arsenal nuclear soviético foi construído. Essas cidades ainda existem. E ainda são cidades fechadas. Você não pode entrar nelas. Estive lá, como se tivesse em mente um plano terrorista, para investigar se seria difícil conseguir urânio altamente enriquecido.

Só para ficar mais claro, pois alguém que está ouvindo pode pensar: ele está fornecendo um guia para terroristas. O que você está tentando explicar?

Pode até ser um guia. Por outro lado, me garantiram diversas vezes que minhas descobertas são já bem conhecidas em todo o mundo. Um sujeito me disse que eu estava lidando com um nível de informação básica, digna de condecoração por mérito, como se eu fosse um escoteiro. E infelizmente existe informação suficiente para criar uma bomba.

Então você foi até os Montes Urais, na ex-União Soviética, e está tentando pensar como um terrorista. Você tem conhecimento de que em algum lugar naquelas cidades proibidas existe urânio altamente enriquecido. E que você precisa de cerca de 100 libras desse urânio. Que opções você teria?

Bem, há duas opções. Você pode atacar com um comando relâmpago e roubá-lo com mais calma. Mas a idéia de um comando relâmpago não é das melhores, por uma razão: aquelas cidades são bem protegidas. OK, são protegidas por tropas que podem estar bêbadas, ou drogadas, com todo o tipo de problemas morais, mas ainda assim elas podem atirar. E fazer barulho.

O problema maior é que, se você fizer barulho, se você usar um comando para atacar, você terá de fugir do local. E você tem centenas de milhas para percorrer, e poderá ser interceptado. Você terá de conseguir o material físsil de tal forma que os russos não descubram, pelo menos por alguns dias ou talvez nunca.

E como seria o caminho mais prático? Agir por dentro?

Agir por dentro, corrupção. E existe bastante corrupção na Rússia, naturalmente. Mas não é assim tão fácil. Não há muitos estrangeiros naquele lado do mundo. Você seria notado.Você não pode simplesmente chegar e corromper alguém. Isso é algo que tem de ser feito através de intermediários russos, porém é um processo difícil.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O tenor pop



Luciano Pavarotti pode não ter sido a voz operística mais potente entre os grandes tenores italianos do século 20, mas foi sem dúvida a mais popular. E foi o tenor mais aberto a uma aproximação com outros universos musicais fora do exclusivo clube da música clássica.

Que o digam os diversos artistas com quem Pavarotti dividiu o palco, astros da música pop de tendências tão distintas como o rei do soul James Brown e roqueiros como Sting, Bono Vox e Brian Adams.

Neste sentido, Pavarotti foi responsável por estreitar o fosso entre o high Brown e o low brow, a alta e a baixa cultura, e assim levar o bel canto a platéias antes inimagináveis. No vídeo acima, Pavarotti canta “Caruso”, do compositor italiano Lucio Dalla.

E abaixo alguns dos mais de trezentos comentários postados por leitores em resposta ao obituário do New York Times:

“Felizmente podemos ainda ouvir suas inúmeras gravações. Mas é simplesmente terrível que não possamos mais ouvi-lo cantar. Ele deixa um vazio para todos nós que amamos ópera.”

“Lembro de estar correndo no frio inverno de Oklahoma, há 30 anos, ouvindo sua voz. Ele era capaz de me emocionar e inspirar até o ponto em que nenhum outro artista conseguiria, e a distância só fez aumentar.”

“Ele tinha a melhor voz, e me levou a amar a ópera.”

“Um mestre de verdade que reinventava a si mesmo e criava nichos de mercados, ou, talvez mais precisamente, mercados de massas. Um verdadeiro otimista que fazia o que fosse possível para levar a música clássica ao mais alto e o mais baixo estrato cultural.

“Sou incapaz de imaginar o mundo da ópera sem sua voz. Ele apresentou sua arte a milhões, platéias emocionadas ao redor do mundo.”

“Sempre reconheci a voz dele no rádio. A outra voz que sempre identifiquei foi Pinza. Peculiaridade não torna uma voz necessariamente grande, contudo, a emoção de uma grande voz que é indelevelmente peculiar é um prazer além de todas as medidas.”

“Mesmo após ter se tornado mais fraca, sua voz ainda seduzia meu coração. Agradeço profundamente a Deus por tê-lo trazido a este mundo com uma voz tão doce e peculiar, e agradeço a ele por tê-la doado tão generosamente.”

“Acho que foi uma grande sorte ter assistido a algumas de suas apresentações e recitais. Sua voz certamente impôs um alto padrão que poucos podem igualar, porém a memória de sua voz permanecerá para sempre conosco.”

“Eu o vi cantando no Metropolitan e depois fui até os camarins. Ele era o mais adorável e educado dos homens. Ele sentou-se e conversou comigo, beijou as mãos de minhas amigas. Irradiava o que só posso descrever como calor e carisma superhumanos.”

“A perda de sua voz maravilhosa não pode ser calculada. Estou ouvindo-o cantar ´Uma furtiva lágrima´ neste momento. Mal posso escrever por causa das minhas lágrimas.”

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Robert Fisk e a guerra

Robert Fisk esteve no Brasil para participar da Flip de Paraty e lançar seu livro A grande guerra pela civilização, com quase 1.500 páginas, um impressionante inventário de seus 31 anos de carreira jornalística.

Concedeu várias entrevistas. Em todas apareceu como um homem passional, de raciocínio rápido, que não hesita em expor suas opiniões polêmicas e tomar o partido dos mais fracos e oprimidos nos conflitos de guerra. Mostrou-se vigoroso defensor do jornalismo como desafio da autoridade, uma postura cada vez mais posta em xeque, principalmente na imprensa americana, por ele duramente criticada.

A Revista Trip também o entrevistou:

Como o senhor vê a cobertura de guerras hoje em dia?
Eu me lembro de quando os jornalistas americanos chegaram em Bagdá em 2003. Eu estava perto dos iraquianos, onde as bombas caíam, não estava acompanhando as tropas "aliadas" como quase todos. E aqueles jornalistas todos com cabelo cortado como soldados, usando algum uniforme militar, fumando cigarros e fazendo cara de mau. Era tão nítido que estavam representando um papel, algo que haviam visto na TV. É mais seguro? Sim. Mas não é o que eu chamo de jornalismo.

O que é jornalismo para o senhor?
Contar o que realmente está acontecendo, mas com uma premissa básica, que é desafiar a autoridade. Sempre, é o mais importante. Hoje a imprensa se acovardou ou se aproximou demais dos governos para questioná-los de fato. Os jornais repetem a retórica dos governos ocidentais sem o menor senso crítico. Dessemantizam tudo, distorcem a linguagem para que ninguém possa discordar. Chamam o muro que Israel construiu de cerca, os assentamentos de territórios disputados. E a palavra “terrorismo” então! Eu jamais a usaria no sentido comum.

Por quê?
Terror, terror, terror! Para que serve isso? Para gerar medo. E criar uma divisão definitiva de bem e mal. E vira a permissão moral para a violência de Estado de um modo vergonhoso. Quando se combate o terror vale tudo. Podemos torturar, matar crianças, mentir, esconder, manter Guantánamo. Porque estamos combatendo o “terror”. Ora, sejamos claros... o Ocidente fez atrocidades com o Oriente Médio durante tempo demais. E, pela nossa completa ignorância histórica, querem nos convencer de que eles nos odeiam porque somos livres.

Os militares, a tortura e o exemplo uruguaio

No Brasil, o lançamento do livro Direito à memória e à verdade reaviva o tema ditadura militar. Reavivar é forma de dizer. O período do regime militar permanece como um assunto não resolvido na sociedade brasileira. Aqui a Lei da Anistia, de 1979, lançou um perdão geral e irrestrito para os dois lados: ativistas da luta armada e militares.

O mesmo se deu no Uruguai. Em 1986 foi aprovada a lei da Caducidad. Mais de vinte anos depois, movimentos sociais se organizam para anulá-la.

Não se fala em revanchismo, ou vingança tardia. O objetivo, de acordo com Luis Puig, secretário dos direitos humanos da central trabalhadora PIT-CNT, é acabar com a cultura da impunidade na sociedade uruguaia.

Por causa dessa lei, militares e policiais que seqüestraram, mataram e ocultaram cadáveres não podem ser julgados e condenados.

Somente agora, durante o governo de Tabaré Vázquez, é que uma brecha na lei começou a ser explorada, permitindo que delitos praticados pelos militares fora do país possam vir a ser julgados. Graças a esse precedente é que os destinos de 40 uruguaios seqüestrados em Buenos Aires e levados para o Uruguai começaram a ser investigados.

Os reflexos se fazem sentir. Onze militares e policiais aguardam sentença em prisão especial, denúncias de assassinatos contra opositores da ditadura militar uruguaia estão sendo investigadas por seis tribunais e escavações em quartéis militares e covas clandestinas foram ordenadas pelo governo.

Portanto, decisões muito mais corajosas e efetivas do que a publicação – muito tardia, é bom ressaltar – de um livro à guisa de inventário do terror de Estado.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

As sombras de Stálin

A prática de confinar opositores em hospitais psiquiátricos, uma velha arma do stalinismo, ainda se mantém em voga na Rússia.

No ano passado, pelo menos dez jornalistas, ativistas políticos e críticos de autoridades locais foram hospitalizados erroneamente em hospitais para doentes mentais.

Nada tão disseminado a ponto de fazer lembrar os tempos dos temíveis gulags, campos de concentração localizados em regiões inóspitas e geladas, como a Sibéria, usados por Stálin para silenciar seus inimigos.

Hoje, o tratamento psiquiátrico imposto para fins políticos é mais raro, mas segue como um recurso usado por familiares inescrupulosos para limpar do mapa parentes inconvenientes. O objetivo: ganhos financeiros.

Tudo isso tem acontecido com o aval dos próprios psiquiatras. Eles aceitam suborno e falsificam diagnósticos o tempo todo, segundo denúncia da Associação Psiquátrica Independente. Mas seu presidente, Yuri Savenko, afirma que tem conhecimento de casos quase que diários de internamentos em hospitais estatais, com objetivos políticos.

O caso mais notório é o da jornalista Larisa Arap, de 48 anos, moradora de uma pequena localidade de Murmansk. Em junho passado, ela concedeu a um jornal local uma entrevista em que fazia críticas ao hospital psiquiátrico da região.

Um dia Larisa foi fazer um exame de rotina para renovar a carteira de motorista e acabou presa, despida e sedada no hospital. Larisa, que integra um movimento de oposição ao Kremlin, acabou sendo libertada graças à pressão da mídia internacional. Seu caso foi revisto e ela, declarada mentalmente apta.

Existem, contudo, outros casos em andamento. O jornalista Andrey Novikov, de Rybinsk, na Rússia central, é mantido em tratamento psiquiátrico por criticar a polícia de Vladimir Putin na Chechênia.

Como os mais velhos têm analisado esses remanescentes do stalinismo? Vladimir Bukovsky, que em 1960 foi mantido numa clínica psiquiátrica por críticas ao regime, resume tudo: na Rússia moderna, assim como na União Soviética, só um louco é capaz de abrir a boca.

sábado, 25 de agosto de 2007

Os piratas contra Hollywood

“Comecei fazendo cópias de disquetes em meu computador quando eu tinha 8 anos. Você não deve dizer às pessoas aonde elas não podem ir ou o que não devem fazer.”

Vinte anos se passaram. Hoje o sueco Peter Sunde vai muito além dos disquetes. Com os amigos Fredrik Neij e Gottfried Svartholm, ele criou o site The Pirate Bay.

O site, com mais de dois milhões de visitas diárias, permite piratear conteúdo protegido por copyright, e vai de músicas e jogos até filmes em cartaz nos cinemas.

A iniciativa tem provocado a ira dos poderosos de Hollywood, da indústria fonográfica e da TV.

Nos últimos três anos, Hollywood tem movido uma ofensiva pesada para fechar o site, acusando-o, inclusive, de praticar extremismo político.

A própria polícia sueca tem andado no encalço de Sunde e seus parceiros. No ano passado, Gottfried Svartholm foi levado para interrogatório.

Apesar de toda essa perseguição, Sunde e os amigos são apenas estudantes que vivem nos subúrbios de Estocolmo, mantendo uma rotina comum. Trabalham durante a noite e acordam tarde. O mais próximo que possuem de um escritório é uma escrivaninha com um aparelho de fax.

Todo esse barulho não preocupa Sunde. Para ele, o Pirate Bay é apenas um site de busca, que não lhe rende dinheiro, ao contrário do que dizem as acusações de que se beneficia comercializando material protegido por copyright. O que ele e sua equipe consegue ganhar provém de publicidade e outras atividades.

Como o site não abriga conteúdo ilegal, segue protegido pelas leis suecas e por ora está livre de ter o mesmo destino de serviços como o Napster e o Kazaa, que foram obrigados a fechar por decisão judicial.

Com ou sem Sunde no caminho, a indústria da mídia e do entretenimento está com seus alicerces definitivamente abalados. A guerra contra a ganância dos grandes estúdios já foi há muito tempo declarada.

O Brasil que não passa na TV

A vida dos habitantes da periferia de uma cidade como São Paulo não é nada fácil. O calvário tem várias facetas. Uma delas é o ir-e-vir diário nos ônibus. O repórter Luiz Carlos Azenha, ex-TV Globo, fez o que os repórteres da grande mídia não fazem: foi checar o caos de perto. Ele acompanhou a rotina da família de Dona Isabel, classe média do bairro Campo Limpo, na localidade de Taboão da Serra.

Registrou e pôs tudo na sua TV Viomundo. No trecho acima, Azenha segue viagem num ônibus superlotado. Aqui você pode ver todas as partes da reportagem.

Todo dia Gilmara, Marina e Junior, filhos de Dona Isabel, percorrem uma distância de 15 km até o destino final, o centro de São Paulo. Gilmara gasta por dia cerca de três horas andando de ônibus. Isso corresponde a um mês por ano. Tempo desperdiçado.

Mas a mídia só tem olhos para o caos aéreo. Azenha informa que apenas 8% dos brasileiros andam de avião.

Comparações são necessárias para entender o drama dos que moram nas lonjuras da capital paulista. Segundo Azenha, o metrô de São Paulo preenche apenas 61 km. O de Nova York, 1.056 km.

Leia a reportagem completa no site Vi o Mundo, de Azenha.

domingo, 19 de agosto de 2007

Duke Ellington desce dos céus

Aracaju, ano da graça de 2007. Noite de 18 de agosto. Teatro Tobias Barreto.

Senhoras e senhores, com vocês, a Duke Ellington Orchestra.

Não, não é um sonho em cinemascope. A cidade dos cajueiros e dos papagaios, sonolenta província à beira mar, será palco de uma apresentação memorável de jazz.

São 21 horas. Será daqui a pouco. Faltam apenas alguns minutos. O tempo escoa lentamente. Duke Ellington, ladies and gentleman. Em Aracaju.

Sem aviso prévio, um a um os músicos vão ocupando o palco com a placidez de quem vai a um culto dominical. Podia ser bem ali no Harlem. Podia ser no Mississipi. Podia estar se desenrolando num inferninho de Nova York.

Mas tudo acontece bem diante dos meus olhos. Aqui jaz uma embasbacada testemunha. Meninos, eu vi.

Com um discreto comando do band-leader, o mais fino jazz da mais fina tradição norte-americana começa a magnetizar a distinta platéia.

Virtuosismo, elegância, precisão, talento. As palavras são insuficientes para traduzir o intraduzível, o etéreo, o sensorial, o arrebatamento, o som infernal que 15 músicos é capaz de provocar.

O buddy Duke Ellington desce dos céus. Posso vê-lo espiando com uma discrição quase invisível recuado em algum ponto do palco.

Nascido Edward Kennedy Ellington no remoto ano de 1899, Mr. Ellington é considerado o maior compositor de jazz de todos os tempos. Consultem suas amarfanhadas enciclopédias. Deram-lhe o título informal de duque (“Duke”). Não foi à toa. Duque Ellington era sinônimo de elegância não apenas musical, mas pessoal. Era um gentleman do jazz. E erudito. Foi buscar inspiração em Shakespeare para alguns dos seus temas. Como Miles Davis, vinha de uma linhagem de negros bem nascidos, uma aberração num universo tradicionalmente povoado por músicos recrutados na mais abjeta pobreza americana.

Os 15 bravos intérpretes que dão o tom da festa esta noite honram o nome do mestre à perfeição. O primeiro número se esparrama por longos e eternos 9 minutos. Poderia ter durado 10, 20 minutos. Isso é jazz e suas jam sessions intermináveis.

O equilíbrio da orquestra é notável. É como se você estivesse diante de um time formado por 15 Pelés atuando em harmonia. Imbatível. Quando você pensa que viu o melhor da noite, acaba rendido pela rodada seguinte de mais um solo de trompete. Ou de trombone. Ou de clarinete. Ou de saxophone.

Lá do fundo do palco o sujeito vem vindo de mansinho, apruma o microfone, se empertiga um pouco, calibra o instrumento - e mágica. Mágico, seu fraseado flui com espantosa beleza. Agudos e agudíssimos são atingidos com a facilidade de quem assobia.

Uma confraria do jazz, eu vejo, vem se somar a Duke Ellington em algum canto recôndito do palco. Por lá estão Dizzy Gillespie, Chet Baker, Charlie Parker, Thelonius Monk.

Bonachão, o band-leader com voz de barítono de igreja gospel anuncia mais um número. Os solos se sucedem em performances apoteóticas. O público vem abaixo. É uma noite para ficar definitivamente marcada no DNA do teatro e da aldeia.

Compenetradíssima em seu baixo acústico, uma mulher com ar renascentista destoa no conjunto dos marmanjos. Jennifer - gravei seu nome. Mais low-profile impossível. A presença feminina no jazz é incomum, apesar das divas imortais. Por que Jennifer escolheu o jazz? E por que tocar um contrabaixo? Eu adoraria ter sondado suas razões, ter conversado com ela.

O clássico dos clássicos do duque ficou para o final. Não sem um aviso provocador do band-leader, que já havia anunciado minutos atrás: “Agora vocês irão ouvir música de verdade. Esqueçam tudo que ouviram até agora”.

E o grand finale veio com “Take the A-Train”. Foi o bastante para entrarmos num túnel do tempo, mesmerizados pela lembrança de uma América que vendia a imagem de baluarte da liberdade e do progresso, visão idílica que se perdeu mas que podemos nos permitir o luxo de alimentar numa noite ao som de Duke Ellington.

Se você não viu a apresentação da Duke Ellington Orchestra em Aracaju, pode degustar um pouco
neste vídeo da TV Balaio de Notícias.

sábado, 18 de agosto de 2007

Os pobres, a saúde e a burocracia

São tanto os desafios que rondam o planeta nesta quadra dramática da humanidade. Guerras, fome, terrorismo, desemprego, violência urbana, criminalidade, corrupção. Ufa!

De alguma – ou de muitas formas – os ricos, os muitos ricos, os riquíssimos, beneficiados diretos do processo de globalização, podem construir um mundo à parte. Protegidos por fronteiras inexpugnáveis, seguem imunes ao clamor da pobreza.

Parece tese defendida por um certo esquerdismo infantil, ou coisa de arauto do catastrofismo. Mas a pobreza grassa. E não é de hoje. Nos anos 1950, Bertrand Russel, um dos últimos grandes filósofos humanistas contemporâneos, sentenciava: a pobreza é o maior flagelo da humanidade.

Sobre a pobreza do planeta há estatísticas impiedosas. Lá vai uma. Um bilhão e trezentos milhões de pessoas não têm acesso a qualquer sistema básico de saúde. O assunto deverá ocupar o ponto mais alto da agenda política dos países. O alerta é de Margaret Chan, recém-empossada diretora geral da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Margaret Chan, que é chinesa, conhece bem o drama da saúde mundial . Antes de galgar o alto posto da OMS, era diretora de saúde em Hong Kong e se defrontou com a eclosão da epidemia da gripe aviária, a Sars.

Para vencer os desafios da saúde que atingem não apenas países em desenvolvimento, Margaret Chan afirma que o primeiro passo é vencer as burocracias dos países, da ONU e da própria OMS.

Só ultrapassando essa primeira barreira é que se poderá fortalecer o sistema de distribuição de saúde, que é débil e não tem sido capaz de combater doenças como a tuberculose, a malária e a Aids.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Joel Silveira (1918-2007)

“Não me morra, Seu Joel. Repórter é para mandar notícias, não é para morrer."

Foi assim que Assis Chateaubriand se dirigiu ao repórter Joel Silveira, antes de mandá-lo cobrir a guerra na Itália, como correspondente dos Diários Associados. Em outra ocasião, Chateabriand o chamou de “víbora”, devido ao seu estilo impiedoso.

Joel não só voltou vivo, como registrou para a posteridade o sangrento palco da guerra. Jamais se cansou de repetir que partira jovem e voltara envelhecido, tamanha a brutalidade do que testemunhou em solo europeu.

Sergipano de Lagarto, mudou-se para o Rio de Janeiro com 19 anos, em 1937. Morreu hoje, aos 88 anos, no seu apartamento em Copacabana.

Suas reportagens mais famosas, Eram assim os Grã-finos em São Paulo e A milésima segunda noite da avenida Paulista, se tornaram clássicos do gênero no Brasil e lhe trouxeram fama.

Em uma entrevista que concedeu há quase três anos, por ocasião do lançamento do seu livro A feijoada que derrubou o governo, Joel desancou poderosos e totens sagrados da cultura brasileira, mostrando que conservou viva a verve que tanto o caracterizou.

Aqui, aqui e também aqui, Geneton Moraes Neto, amigo e discípulo de Joel Silveira, descreve algumas das conversas que manteve com o mestre nos últimos anos.

Foto: Globo

terça-feira, 14 de agosto de 2007

A longa vida do comandante

Cuba sustenta um recorde mundial, mas não é em nenhum esporte. A ilha tem na figura de Fidel Castro o mais longevo dirigente do mundo a se manter no poder. Mesmo computando o desconto do seu afastamento por doença. Afinal, Fidel ainda é o fiel (sem trocadilhos) da balança do regime cubano. O que advirá após sua morte permanece uma incógnita.

No poder desde 1960, o jefe encabeça uma lista de 11 poderosos, entre presidentes, sultões e um coronel, a maior parte da África e do Oriente Médio. De onde mais?

A maioria desses representantes tomou o poder por meio de fraudes eleitorais ou, simplesmente, mediante golpes. Alguns, de tão perenes, acabam se confundindo com a história de seus países. Como se fossem sinônimo ou eco de suas nações. Exemplo: o líbio Muammar Kaddafi, no poder desde início dos anos 1970.

Em segundo lugar na lista aparece o presidente Omar Bongo, do Gabão, aboletado no poder há mais de quarenta anos. Mesmo tempo do sultão Hassanal Bolkiah, do Brunei.

A relação completa do pódium dos campeões - de acordo com o tempo no poder - e seus respectivos "troféus":

1 – Fidel Castro, Cuba

2 – Omar Bongo, Gabão

3 – Hassanal Bolkian, Brunei

4 – Muammar Kaddafi, Líbia

5 – Qaboos, Oman

6 – Ali Abdullah Saleh, Iêmen

7 – Maumoon Abdul Gayoom, Ilhas Maldivas

8 – Obiang Nguema, Guiné Equatorial

9 – José Eduardo dos Santos, Angola

10 – Robert Mugabe, Zimbábue

11 – Hosni Mubarak, Egito

domingo, 12 de agosto de 2007

Mata Hari, femme fatale

Uma mulher avançada para o seu tempo. Uma mundana. Uma mulher de moral duvidosa. Uma sedutora. Todas essas características parecem se encaixar na figura de Mata Hari, a célebre espiã francesa condenada à morte por vender segredos aos alemães durante a I Guerra Mundial.

Todavia, é exatamente o rótulo de espiã que tem sido questionado por seus biógrafos. A antropóloga Pat Shipman está lançando o livro “Love, Lies and the Unknown Life of Mata Hari”. Nele expõe a tese de que Mata Hari foi condenada por ser uma mulher universal, um eufemismo para prostituta, femme fatale, especialmente para os franceses.

Mata Hari, cujo nome original era Margaretha Geertruida Zelle, nasceu na Holanda em 1876. Casou-se pela primeira vez aos 15 anos com um oficial do exército. O casamento acabou em 1890. A partir daí, Mata Hari adotou o nome que a tornou famosa e se transformou numa dançarina exótica e requisitada em Paris, oferecendo seus favores a uma variedade de homens. A maior parte dos envolvimentos se deu com oficiais, manifestando uma preferência abertamente admitida por Mata Hari, para quem os militares eram “outros seres, artistas que viviam em uniformes sedutores”.

Necessitando de dinheiro para manter sua vida extravagante, Mata Hari negocia o valor de 20 mil francos para espionar em favor dos alemães, porém nunca cumpriu a missão. Seu vai-e-vem foi observado pela inteligência francesa, e a suspeita de que espionava se avolumou desde então.

Pat Shipman argumenta que a visibilidade de Mata Hari como artista funcionava com um fator desfavorável para que exercesse o papel de espiã. Embora sedutora, ela era uma “candidata ridícula”, pois a tarefa exigia um comportamento clandestino.

Por ter ido para a cama com tantos homens e viajado tanto durante o período de guerra, foi confundida com uma espiã. No dia 15 de outubro de 1917, Mata Hari, com a idade de 41 anos, foi julgada por um tribunal e executada. Pagou um preço alto por sua liberalidade, não por ter espionado o que quer que fosse.

O Brasil e a cultura do imediatismo

"O brasileiro dedica-se pouco a planejar o futuro?

Vivemos uma cultura cujo centro de gravidade está calcado no “aqui e agora”. A razão histórica disso é que somos resultado da confluência de três outras culturas extremamente imediatistas. Como dizia Sérgio Buarque de Holanda, o colonizador ibérico veio para encontrar o paraíso e não para construí-lo, a exemplo do que aconteceu na América do Norte. Ele trouxe a noção do desfrute imediato e predatório. Por outro lado, nossa formação passa também pelo africano submetido à escravidão, o que deturpa terrivelmente a psicologia temporal. À medida em que não era dono nem de seu próprio corpo, não havia nada que o escravo pudesse fazer para melhorar seu futuro. Por fim, somos fruto da cultura indígena, adaptada a um meio em que se vive um momento de cada vez - é o ambiente da caça e da coleta, onde não há sequer a agricultura organizada, que é um enorme exercício de planejamento e ação inteligente no tempo. O encontro desses vetores só poderia produzir uma nova cultura fundamentada no imediato".

Da
ótima entrevista do economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, hoje no Caderno Aliás do Estadão.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A guerra dos americanos e as drogas

Estressados e aborrecidos, soldados americanos no Afeganistão e no Iraque consomem heroína como válvula de escape.

Shaun McCanna escreveu uma longa reportagem para a revista Salon sobre o assunto.

Shaun conta como conseguiu comprar a droga facilmente num bazar de Bagram, local onde está instalada uma base aérea americana no Afeganistão.

Comprou a droga de um vendedor adolescente.

Shaun escreve que a verdadeira extensão do problema do consumo da heroína entre os soldados americanos ainda é desconhecida. Um porta-voz da base revelou que poucas informações sobre assuntos relacionados a álcool e drogas chegam às autoridades militares.

Dos 350 mil soldados americanos que pisaram o palco da guerra nas décadas recentes, cerca de 30 mil têm sido tratados do vício das drogas. Mas a situação atual no Iraque e Afeganistão ainda não aparece nas estatísticas.

Especialistas informam que os números acerca do uso de drogas entre veteranos costumam aparecer depois de 10 anos. Somente agora, por exemplo, é que a realidade sobre o uso de drogas durante a Guerra do Golfo está sendo conhecida.

Shaun conversou sobre o problema com soldados que regressaram da guerra. Mas eles não abrem o jogo, com receio de prejudicar ou desrespeitar os colegas.

Guerra e uso de drogas são situações relacionadas. Dois milhões e meio de americanos serviram no Vietnã. Desses, 14% se tornaram viciados.

Para especialistas, Afeganistão e Iraque, sobretudo o Iraque, podem se tornar um novo Vietnã no quesito consumo de drogas.

Tudo indica que também no sentido bélico.

Foto: Salon

domingo, 5 de agosto de 2007

Bergman, câmera, ação

“Exijo dos outros o mesmo que exijo de mim: o melhor”.

Palavras de Ingmar Bergman durante uma coletiva que concedeu à imprensa sueca para apresentar seu último filme, Saraband, em 2003. A entrevista está no making of do filme, dividido em três partes, com legendas em inglês. Acima, a primeira parte.

Saraband foi realizado em digital como uma série para a televisão. Bergman proibiu que o filme fosse exibido nos cinemas. É a continuação do seu filme anterior, Cenas de um casamento, de 1973, e com o mesmo casal interpretado por Liv Ullmann e Erland Josephson, trinta anos depois.

Os videos mostram um Bergman já bastante cansado, mas ainda assim empenhado em extrair o máximo de uma cena. Ao seu lado podemos ver em várias tomadas a atriz Liv Ulmmann, a eterna musa do diretor.

Abaixo as outras duas partes do making of:

Parte I Parte II

Pontes que caem e a neligência de Tio Sam

Descaso com infra-estrutura não é apenas privilégio do governo brasileiro. Nos Estados Unidos, o colapso da ponte sobre o rio Mississipi, no estado de Minnesota, na última quinta-feira, revelou a negligência da administração Bush.

Mais que depressa, o ministério dos transportes americano liberou verba de U$ 5 milhões para a limpeza e recuperação da área do desastre.

É pouco. O alerta é de John Nichols, em matéria da revista The Nation. O dinheiro não será suficiente sequer para ajudar na remoção dos corpos que foram arremessados no rio. Muito menos chegará para reconstruir a ponte que faz a ligação para Mineápolis, uma das cidades mais populosas da América.

Segundo Nichols, o desastre poderia ter sido evitado se o governo não negasse o repasse de fundos de infra-estrutura aos estados, e se aceitasse a responsabilidade de manter pontes, estradas, barragens e esgotos.

A queda da ponte não é uma ocorrência isolada. Nichols observa que essa é uma realidade diária nos Estados Unidos. Ele lembrou a explosão de um cano subterrâneo numa rua de Nova York dias atrás.

Tal como a tragédia de Congonhas, o risco de acidente com a ponte de Mineapólis era objeto de denúncias por parte de especialistas. A estrutura era deficiente e apresentava rachaduras.

A Sociedade Americana de Engenheiros Civis estima que U$ 1.6 trilhões precisam ser investidos, durante cinco anos, para pôr a infra-estrutura do país em boas condições.

Parece uma grana difícil de conseguir. Mas Nichols salienta que Bush deverá gastar U$ 1 trilhão de dólares para completar sua missão no Iraque.

Veja slideshow com fotos que testemunhas fizeram do local do desastre.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

As mulheres e o mercado de trabalho

Fala-se muito sobre as conquistas das mulheres no mercado de trabalho. Elas estão em toda a parte, e muitas vezes exercendo profissões que, em outros tempos, seriam ocupadas exclusivamente pelos homens.

Mas a esse avanço não têm correspondido melhores salários.

Segundo pesquisa divulgada hoje pela The Economist, as mulheres ganham menos que os homens em 27 países da União Européia.

Em 2005, essa diferença chegava a 15%.

Em alguns casos, o desnível é atribuído à alta segregação no mercado de trabalho, como na Finlândia. Ou porque, em alguns países, a maioria das mulheres não trabalha em tempo integral, como na Alemanha e na Grã-Bretanha.

O cenário muda, porém, em Malta, Itália e Portugal. Lá o contingente feminino com baixo nível de especialização é reduzido. Isso contribui para encurtar o hiato salarial entre homens e mulheres nesses países.

Todavia, é no setor privado que a desvalorização da mulher atinge níveis mais altos: 25%.

A distância aumenta de acordo com o nível educacional. Mulheres com nível superior costumam receber 30% a menos do que os homens.

Moral (perversa) da história: as mulheres poderiam perder menos salário se dedicassem o tempo delas a cuidar dos filhos.

Gráfico: The Economist/Eurostat

terça-feira, 31 de julho de 2007

Addio, Antonioni

"Alto, cerebral e deliberadamente sério, Antonioni lembra um tempo, na metade do século passado, em que ir ao cinema era uma atividade intelectual, quando passagens intencionalmente sem brilho de filmes com fama de difíceis estimulavam longas noites de discussões vagas nas calçadas dos cafés, e quando diretores da moda, como Antonioni, Alain Resnais e Jean-Luc Godard, eram perseguidos em Cannes por cinéfilos que queriam saber o que diabos eles pretendiam dizer com seu último escândalo".

Do obituário do New York Times sobre Michelangelo Antonioni, que morreu ontem na Itália aos 94 anos.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Bergman e o fim de uma era

Blogueiros, jornalistas culturais, cinéfilos, críticos de cinema e escritores do mundo inteiro renderam suas homenagens ao cinesta Ingmar Bergman, que morreu hoje na Suécia.

O crítico Peter Bradshaw, do The Guardian, escreveu que a morte de Bergman representa o fim de uma era.

Para Bradshaw, Bergman era a inteligência de sua geração e, dos diretores do pós-guerra, era o que carregou nos ombros o fardo das questões morais.

“Ninguém fazia filmes como Bergman”, escreveu Bradshaw, “e mesmo Woody Allen, seu grande admirador, que chegou a imitá-lo uma vez, recuou anos atrás de sua experiência com a frieza sombria da seriedade bergmaniana, preferindo a comédia leve”.

Não que Bergman não fosse incapaz de fazer sorrir. Apesar de toda a carga dramática dos seus filmes, foi uma comédia, Sorrisos de uma noite de amor, que o tornou conhecido internacionalmente, segundo a BBC.

Mas Bergman estava bastante sozinho, analisa Bradshaw. “Sua presença eclesiástica e descarnada, nessa era de vídeo digital, camêras portáteis e mídia pós-moderna influenciada pela TV, estava fora do tempo”.

domingo, 29 de julho de 2007

O gigante poluidor

Gilberto Scofield Jr., correspondente de O Globo na China, comenta em seu blog sobre os efeitos que o crescimento econômico desenfreado daquele país vem provocando no meio ambiente:

"Com um crescimento da economia acima de 9% nos últimos 10 anos e um quinto da população do planeta, a China vive o inferno ambiental por conta de uma ênfase no desenvolvimento que exige pouca responsabilidade de dirigentes e empresários com políticas verdes. Alguns dados são dramáticos: segundo o Banco Mundial, a China tem hoje 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo. Nada menos que 300 milhões de chineses não possuem acesso a água potável. E pelo menos 400 mil pessoas morrem prematuramente, todos os anos, de doenças causadas por poluição".

Gilberto Scofield Jr. é autor do livro Um brasileiro na China.

sábado, 28 de julho de 2007

O fator humano

A revista VEJA dá um furo sobre a tragédia com o Airbus da TAM. Foi humano o erro que levou à morte 200 pessoas, no pior acidente aéreo do país.

Segundo as análises iniciais das caixas-pretas, antecipadas por VEJA, o avião não conseguiu desacelerar por causa de um erro do comandante do vôo, Kleyber Lima.

A operação equivocada de um dos manetes (alavancas que regulam os funcionamentos das turbinas), no momento em que o avião tocou o solo, fez com que a turbina do lado esquerdo freasse, enquanto a do lado direita acelerava.

Dessa forma, o avião não conseguiu parar.

As informações preliminares obtidas pela VEJA descartam, portanto, o não funcionamento de um dos reversores da aeronave como causa principal do acidente.

VEJA, porém, destacou uma observação feita pelo brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe das investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), do Ministério da Defesa: a aterrissagem com reverso travado poderia ter influenciado psicologicamente os pilotos.

VEJA faz a ressalva de que o erro do piloto poderia ter sido minimizado se fossem outras as condições da pista principal de Congonhas, muito curta e sem áreas de escape. A revista nota que em acidentes provocados por causas similares, ocorridos nas Filipinas (1998) e emTaiwan (2004), a infra-estrutura das pistas contribuiu para que os danos fossem reduzidos.

Céu além fronteiras

Céu é a mais nova queridinha da canção no Brasil. Neste video, ela canta "Valsa pra Biu Roque" acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Amsterdam.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os dias felizes da princesa

Dez anos após sua morte, num acidente em Paris, a princesa Diana continua sendo notícia. Na Inglaterra, a jornalista e editora Tina Brown acaba de lançar o livro The Diana Chronicles, sobre a vida de Diana após o seu divórcio com o príncipe Charles.

A Vanity Fair divulgou um trecho do livro. Uma amostra:

Diana nunca esteve melhor do que nos dias seguintes ao seu divórcio. Despojamento era o nome do jogo, em sua vida e em seu visual. O corte começou com sua equipe do Palácio de Kensington, a qual ela reduziu a faxineira, cozinheiro e cabeleireiro. O assíduo Paul Burrel tornou-se o responsável por sua vida privada, combinando os papéis de relações públicas, motorista, office-boy, confidente e ombro amigo.

Em vida, Diana foi perseguida incansavelmente pelos paparazzi. A Vanity Fair mostra 17 fotos de momentos felizes da princesa, incluindo algumas pouco conhecidas da sua infância.

Foto: Camera Press/Spen/AL/Retna Ltd.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Celulares. Sinais eletromagnéticos não causam doenças


Pessoas assustadas com as antenas transmissoras de sinais de celulares podem ficar tranqüilas. Pesquisa comandada pela psicóloga Elaine Fox, da Universidade de Essex, em Colchester, Inglaterra, revelou que não há evidências de que, no curto prazo, as radiações eletromagnéticas prejudicam a saúde.

Problemas como náusea, dor de cabeça e sintomas de gripe, atribuídos aos efeitos de radiações, podem ser psicológicos. É o que sugeriu Elaine Fox.

A pesquisa testou 44 pessoas. Após serem submetidas à informação de que os transmissores estavam ligados, as mais sensíveis reclamaram de incômodo, forte ansiedade e tensão.

Apenas duas pessoas do grupo acertaram quando lhes perguntaram se os transmissores estavam ligados ou desligados. De seis testes, acertaram os seis.

Esse resultado sugere que os sintomas são reais, porém não desencadeados pelas ondas magnética, e sim pelo fato de as pessoas acharem que estão próximas de uma antena telefônica.