sábado, 30 de junho de 2007
Estrela literária
iPhonemaníacos
O iPhone pode ser considerado a traquitana do ano. O marketing em torno do seu lançamento talvez explique a euforia dos consumidores. Matéria do El País (aqui, em espanhol), sobre a mais nova arma da Apple, destacou outros iPhonemaníacos tão entusiasmados quanto John Samson. É o caso de Kristian Gunderson, que viajou da Noruega para comprar o aparelho. “É um sonho que se transforma em realidade, é o melhor dia da minha vida”, comemorou Gunderson, já com seu iPhone em mãos.
Segundo o El País, o nome do novo telefone da Apple é a quarta palavra mais pesquisada na Internet. A novidade está em praticamente todas as mídias on line. Nem todas aplaudiram o brinquedo de Steve Jobs, o todo-poderoso da Apple. A revista eletrônica Slate, por exemplo, criticou as funcionalidades do iPhone. O título da matéria na capa do site revela tudo: iPhony (aqui, em inglês). Numa tradução livre significa algo como iFarsa. Para a Slate, o equipamento não entrega tudo que promete.
Mas, afinal, o que é que esse iPhone tem de tão especial? Trata-se de um telefone celular que combina as funcionalidades de um player de música e vídeo, com acesso à Internet. Para utilizá-lo, o cliente poderá optar entre três planos básicos (isso para os Estados Unidos), que oscilam entre 60 a 100 dólares. Sem impostos e qualquer tipo de taxa extra.
Nada mal, mas justifica tamanho frenesi? Seremos todos subjugados de forma acrítica pelos apelos da tecnologia?
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Mitos baianos
A revista mostra que, embora a idéia de “terra da felicidade” já estivesse presente numa canção de Ary Barroso, foi com o surgimento da axé-music que a alegria passou a ser vendida como um produto para exportação. Os críticos alegam que isso só foi possível graças à ação do carlismo, que estabeleceu um domínio político de décadas na Bahia. Com o aval de Antônio Carlos Magalhães, parcerias foram estabelecidas entre a Bahiatursa e grupos de entretenimento.
terça-feira, 26 de junho de 2007
Nova revista: online e em video
Inicialmente, o conteúdo da revista ficará a cargo dos editores. Algo diferente, portanto, da proposta do You Tube e sua filosofia do “broadcast yourself”, ou o “transmita você mesmo”. Se a idéia da turma do You Tube era pôr em xeque o monopólio da TV tradicional, acabou por criar uma tendência que, cedo ou tarde, contaminará tudo o que se fizer daqui por diante na Internet.
Não que a Slate já não viesse explorando as diversas possibilidades oferecidas pela Internet e suas linguagens. Entrevistas em vídeo, slide-shows e tudo o que permite uma comunicação multimídia está em suas páginas há tempos. Criar uma revista em vídeo é apenas mais uma ousadia da Slate, há 11 anos no ar.
Curiosamente, alguns vídeos já disponíveis no site foram extraídos do You Tube. Mas a Slate V chegou disposta a inovar. Uma das seções chama-se “Did you see this?”, ou “Você viu isto?”, onde o leitor encontrará os melhores vídeos selecionados da internet. Palavra dos editores.
“Assim como a Slate preenche a lacuna entre a imprensa diária séria e o caos barulhento da blogosfera, queremos que a Slate V ocupe o espaço entre a CNN e o You Tube”, afirmam Andy e Bill. É esperar para ver. Literalmente.
domingo, 24 de junho de 2007
Nada será como antes
Na entrevista, o caso Renan funciona como mote para que diversos outros temas relacionados com os males da vida republicana no Brasil mereçam a análise de Lessa. Para início de conversa, Lessa não acredita que mesmo aqueles políticos que sofreram algum tipo de punição parlamentar saiam incólumes da situação. Cita o caso de Fernando Collor, que hoje amarga um limbo no baixo clero no Congresso, sem qualquer tipo de influência política. E de Paulo Maluf, cujo desempenho tem se limitado a manter sua imunidade.
O futuro de Renan Calheiros, segundo o cientista político, não será dos melhores: “Acho que pode acabar de uma maneira muito ruim para Renan, exatamente por ser ele o presidente do Senado. Não descartaria renúncia e perda de mandato”, afirmou Lessa. Há no episódio uma combinação de “informalidade oligárquica com formalismo jurídico”, segundo o cientista.
O formalismo jurídico, contudo, não assegura que a justiça poderá prevalecer. Nos bastidores da República, forças se movem para que prevaleçam as informalidades. No corpo a corpo diário, os políticos “criam de um lado um mecanismo formal perfeito de investigação e de punição, mas sabem que, na informalidade, derrotam politicamente o que é juridicamente correto”.
Para isso colaboraria a criação de foro privilegiado. “O que ele faz?”, indaga Lessa. “Cria uma espécie de blindagem jurídica em torno dos parlamentares para qualquer questão, para qualquer questão, inclusive de natureza criminal”.
Renato Lessa fala ainda sobre a tênue fronteira entre o público e o privado no Brasil, e o papel da Polícia Federal e da imprensa em todos esses escândalos. Leia aqui a entrevista completa.
Sertanejo, mineiro, brasileiro
O mesmo pode ser dito do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, morto há dez anos por problemas decorrentes do vírus da Aids. Em 1997, mesmo já abatido pela doença, Betinho liderou uma das maiores campanhas cívicas de que se tem notícia no Brasil. Arregaçou as mangas e convocou os brasileiros a abraçar a causa da doação de alimentos e fundos para combater a fome no país.
A história do “irmão do Henfil” acaba de ser contada no livro Betinho, sertanejo, mineiro, brasileiro (Editora Planeta), da jornalista Carla Rodrigues. Colunista do site No Mínimo, Carla trabalhou com Betinho no Ibase durante três anos. O privilégio dessa convivência com o seu personagem foi fundamental para a biógrafa. Apesar da proximidade, Carla informa na apresentação do livro que não foram poucas as dificuldades para recuperar o percurso do homem Betinho. O resultado revelou um ser humano tão excepcional quanto contraditório, conforme pode ser lido na apresentação do livro:
“Betinho nasceu no sertão semiárido do norte de Minas Gerais. Além de carismático na ação política, era também um sedutor na esfera privada. Sociólogo, foi pouco afeito às lides acadêmicas. Conhecido pela capacidade de pregar solidariedade, era capaz de ser profundamente egoísta. Democrático na vida pública, podia ser autoritário nas relações profissionais e pessoais. Famoso como “o irmão do Henfil”, símbolo da campanha pela anistia, viveu quase tanto tempo no exílio quanto na clandestinidade, experiência que o afetou profundamente”.
Clique aqui para ler a íntegra do primeiro capítulo disponível no site da Livraria Cultura.
sábado, 23 de junho de 2007
Uma pedra rolando
Dylan está com 63 anos. Não é mais o garoto que provocou furor nos bares do Village, em Nova York, em suas primeiras aparições tocando um violão, soprando uma harmônica, destilando revolta inteligente contra o sistema. “Like a rolling stone”, um dos seus libelos mais famosos, foi eleita a canção do século numa enquete realizada pela revista Rolling Stone, em 2004. Foi a vitoriosa entre 500 músicas. Passado tanto tempo, as pedras continuam rolando para o bardo fanhoso nascido Robert Zimmerman em Ribbing, Minesotta.
Que o diga a entrevista por ele concedida à Rolling Stone, e reproduzida na Rolling Stone Brasil, edição de banca, em comemoração aos 40 anos da revistona americana. A idade parece ter “amaciado” Dylan, mas, olhando bem o que ele disse na entrevista, não é difícil perceber que nele permanecem as diversas personas que o caracterizaram como um dos artistas mais criativos do século 20. Lá estão: o visionário, o profeta, o poeta, o contestador, o individualista, o polêmico, o sábio.
Querem uma amostra de como Dylan ainda é capaz de propor leituras originais mesmo para temas tão surrados como os anos 60? Ele sustenta uma tese no mínimo polêmica: toda a energia que fermentou e fervilhou os trepidantes sixties só foi possível por causa da explosão da bomba atômica. Esses poderosos fluxos de energia permaneceram reverberando décadas afora e explicam o talento de tudo de rebelde e original que eclodiria na música americana, tempos depois. “Se você reparar em todos esses performers originais, eles eram movidos a bomba atômica: Jerry Lee, Carl Perkins, Buddy Holly, Elvis, Gene Vincent, Eddie Cochran”, afirmou Dylan na entrevista.
Mas nada parece definir mais a personalidade de Bob Dylan e, de certa forma, explicar sua trajetória camaleônica do que a resposta que deu sobre toda essa onda do aquecimento global e a necessidade de soluções por parte dos políticos: “Não espero que os políticos resolvam os problemas de ninguém. Nós temos que pegar o mundo pelos chifres e resolver nossos próprios problemas. O mundo não nos deve nada, não nos deve absolutamente nada”.
terça-feira, 12 de junho de 2007
Magnum 60 anos
Essas são palavras do fotógrafo Henri Cartier-Bresson, um dos criadores da mais famosa agência de fotojornalismo do mundo, em parceria com David Seymour e Robert Cappa.
segunda-feira, 11 de junho de 2007
Frida Kahlo é fashion
“A Frida Kahlo Corporation lancará no mercado cinco modelos distintos de sapatos esportivos com imagens da artista. Planejam também uma linha de roupa. O que pensaria esta artista que lutou no campo do comunismo?”, questiona a revista Gatopardo, do México, na matéria “Frida Kahlo Corporation” (aqui, em espanhol).
O suposto purismo da arte em oposição à sua massificação colocada como um fato inexorável pelas leis do mercado tem promovido embates intermináveis. Indústria cultural, é como a coisa é chamada. Se viva fosse, Frida estaria imune a essa contaminação, e, por que não dizer, necessidade de sobrevivência num mundo em que o sentido da arte - ou a sua utilidade – tem sido posta em xeque?
Vá lá saber. Frida era um personagem excêntrico mesmo entre artistas. Seu polêmico relacionamento com o muralista mexicano Diego Rivera só fez exacerbar o mito em torno da sua figura. Mas até que ponto ela desaprovaria o uso de sua arte para alimentar a produção de mercadorias, da mesma forma que um sabonete ou um shampoo?
Como ela está morta, jamais saberemos. Enquanto isso, sua esperta sobrinha e o empresário Carlos Dorado alimentam planos mirabolantes de faturamento sobre o legado de Frida Kahlo. No negócio, Dorado leva 51% de participação. Diz a Gatopardo que ele já investiu 9 milhões de dólares na empreitada.
Algumas vozes erguem-se, porém, contra esse complô de comercialização do legado de Frida Kahlo. “É a prostituição de Frida”, bradou Ruth Alvarado Rivera, neta de Diego Rivera. Já Raquel Tibol, que conheceu Frida e Diego Rivera e chegou a escrever a biografia de ambos, não deixou por menos: “Não falarei desse mercantilismo perverso, nem me ponha nas mesmas páginas que Isolda”.
Sob protestos ou não, a Frida Kahlo Corporation mira o mercado, e o mais provável é que logo possamos usar sapatos, camisetas e calças com exclusivas etiquetas Frida Kahlo. Façam suas encomendas.
domingo, 10 de junho de 2007
Bolañolatria
Mas esse escritor surgiu.
Roberto Bolaño, cuja obra passa a ser conhecida no Brasil somente agora, é o cara. Nascido em Santiago do Chile em 1953, Bolaño viveu muito tempo no México e depois partiu para a Europa. Mais exatamente para a Espanha, como um expatriado, fugindo do golpe militar que derrubou o governo democrático de Salvador Allende.
Na Espanha, impossibilitado de trabalhar legalmente, Bolaño exerceu diversas atividades. Foi lavador de pratos, vigia noturno, camelô. Apesar das adversidades, jamais abandonou a literatura. No México, fez parte de algumas vanguardas poéticas. Essa experiência será o mote do caudaloso romance Os detetives selvagens, um dos três livros dele agora disponíveis ao leitor brasileiro, em edição da Companhia das Letras. O leitor que se regalar com Os detetives selvagens poderá mergulhar nos outros dois: Noturno do Chile e A pista de gelo.
No livro A verdade das mentiras, Vargas Llosa analisa o romance moderno. Ele escreveu: “Em todas as obras-primas do gênero, esse fator quantitativo – ser abundante, múltiplo, duradouro – está sempre presente: em geral, o grande romance é, também, grande”. Claro que há exceções. Mas, no caso de Os detetives selvagens, podemos afirmar: na mosca! Suas mais de 600 páginas são puro deleite de inventividade, energia criativa, irreverência e humor corrosivo. A história dos poetas real-visceralistas Ulises Lima e Arturo Belano, uma espécie de alter-ego de Roberto Bolaño, é na verdade uma “carta de amor” a sua geração, conforme ele afirmou certa vez.
Uma das matrizes literárias de Bolaño é o romance policial, porém esse não é um recurso que ele utilize da forma costumeiramente conhecida. Para Bolaño, o que menos importa é solucionar o crime. O que interessa mesmo é narrar os dramas humanos e seus mistérios insondáveis, tudo sob o efeito magnetizador de uma linguagem poderosa.
Roberto Bolaño morreu em 2003, aos 50 anos, de insuficiência hepática, mas antes teve a sorte de ver sua literatura reconhecida através dos vários prêmios que ganhou, e do reconhecimento (e algumas vezes do refugo) da crítica. Um ótimo histórico da vida e da obra de Bolaño pode ser lido aqui (em espanhol). E aqui uma entrevista (dividida em 6 partes) que ele concedeu à TV chilena.
Um escritor da estatura de Bolaño não deixou de atrair detratores. A revista Entrelivros que está nas bancas traz uma ótima análise do escritor espanhol Javier Cercas, a qual rebate boa parte da crítica (infundada) sobre a obra do chileno.