terça-feira, 31 de julho de 2007

Addio, Antonioni

"Alto, cerebral e deliberadamente sério, Antonioni lembra um tempo, na metade do século passado, em que ir ao cinema era uma atividade intelectual, quando passagens intencionalmente sem brilho de filmes com fama de difíceis estimulavam longas noites de discussões vagas nas calçadas dos cafés, e quando diretores da moda, como Antonioni, Alain Resnais e Jean-Luc Godard, eram perseguidos em Cannes por cinéfilos que queriam saber o que diabos eles pretendiam dizer com seu último escândalo".

Do obituário do New York Times sobre Michelangelo Antonioni, que morreu ontem na Itália aos 94 anos.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Bergman e o fim de uma era

Blogueiros, jornalistas culturais, cinéfilos, críticos de cinema e escritores do mundo inteiro renderam suas homenagens ao cinesta Ingmar Bergman, que morreu hoje na Suécia.

O crítico Peter Bradshaw, do The Guardian, escreveu que a morte de Bergman representa o fim de uma era.

Para Bradshaw, Bergman era a inteligência de sua geração e, dos diretores do pós-guerra, era o que carregou nos ombros o fardo das questões morais.

“Ninguém fazia filmes como Bergman”, escreveu Bradshaw, “e mesmo Woody Allen, seu grande admirador, que chegou a imitá-lo uma vez, recuou anos atrás de sua experiência com a frieza sombria da seriedade bergmaniana, preferindo a comédia leve”.

Não que Bergman não fosse incapaz de fazer sorrir. Apesar de toda a carga dramática dos seus filmes, foi uma comédia, Sorrisos de uma noite de amor, que o tornou conhecido internacionalmente, segundo a BBC.

Mas Bergman estava bastante sozinho, analisa Bradshaw. “Sua presença eclesiástica e descarnada, nessa era de vídeo digital, camêras portáteis e mídia pós-moderna influenciada pela TV, estava fora do tempo”.

domingo, 29 de julho de 2007

O gigante poluidor

Gilberto Scofield Jr., correspondente de O Globo na China, comenta em seu blog sobre os efeitos que o crescimento econômico desenfreado daquele país vem provocando no meio ambiente:

"Com um crescimento da economia acima de 9% nos últimos 10 anos e um quinto da população do planeta, a China vive o inferno ambiental por conta de uma ênfase no desenvolvimento que exige pouca responsabilidade de dirigentes e empresários com políticas verdes. Alguns dados são dramáticos: segundo o Banco Mundial, a China tem hoje 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo. Nada menos que 300 milhões de chineses não possuem acesso a água potável. E pelo menos 400 mil pessoas morrem prematuramente, todos os anos, de doenças causadas por poluição".

Gilberto Scofield Jr. é autor do livro Um brasileiro na China.

sábado, 28 de julho de 2007

O fator humano

A revista VEJA dá um furo sobre a tragédia com o Airbus da TAM. Foi humano o erro que levou à morte 200 pessoas, no pior acidente aéreo do país.

Segundo as análises iniciais das caixas-pretas, antecipadas por VEJA, o avião não conseguiu desacelerar por causa de um erro do comandante do vôo, Kleyber Lima.

A operação equivocada de um dos manetes (alavancas que regulam os funcionamentos das turbinas), no momento em que o avião tocou o solo, fez com que a turbina do lado esquerdo freasse, enquanto a do lado direita acelerava.

Dessa forma, o avião não conseguiu parar.

As informações preliminares obtidas pela VEJA descartam, portanto, o não funcionamento de um dos reversores da aeronave como causa principal do acidente.

VEJA, porém, destacou uma observação feita pelo brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe das investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), do Ministério da Defesa: a aterrissagem com reverso travado poderia ter influenciado psicologicamente os pilotos.

VEJA faz a ressalva de que o erro do piloto poderia ter sido minimizado se fossem outras as condições da pista principal de Congonhas, muito curta e sem áreas de escape. A revista nota que em acidentes provocados por causas similares, ocorridos nas Filipinas (1998) e emTaiwan (2004), a infra-estrutura das pistas contribuiu para que os danos fossem reduzidos.

Céu além fronteiras

Céu é a mais nova queridinha da canção no Brasil. Neste video, ela canta "Valsa pra Biu Roque" acompanhada pela Orquestra Sinfônica de Amsterdam.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os dias felizes da princesa

Dez anos após sua morte, num acidente em Paris, a princesa Diana continua sendo notícia. Na Inglaterra, a jornalista e editora Tina Brown acaba de lançar o livro The Diana Chronicles, sobre a vida de Diana após o seu divórcio com o príncipe Charles.

A Vanity Fair divulgou um trecho do livro. Uma amostra:

Diana nunca esteve melhor do que nos dias seguintes ao seu divórcio. Despojamento era o nome do jogo, em sua vida e em seu visual. O corte começou com sua equipe do Palácio de Kensington, a qual ela reduziu a faxineira, cozinheiro e cabeleireiro. O assíduo Paul Burrel tornou-se o responsável por sua vida privada, combinando os papéis de relações públicas, motorista, office-boy, confidente e ombro amigo.

Em vida, Diana foi perseguida incansavelmente pelos paparazzi. A Vanity Fair mostra 17 fotos de momentos felizes da princesa, incluindo algumas pouco conhecidas da sua infância.

Foto: Camera Press/Spen/AL/Retna Ltd.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Celulares. Sinais eletromagnéticos não causam doenças


Pessoas assustadas com as antenas transmissoras de sinais de celulares podem ficar tranqüilas. Pesquisa comandada pela psicóloga Elaine Fox, da Universidade de Essex, em Colchester, Inglaterra, revelou que não há evidências de que, no curto prazo, as radiações eletromagnéticas prejudicam a saúde.

Problemas como náusea, dor de cabeça e sintomas de gripe, atribuídos aos efeitos de radiações, podem ser psicológicos. É o que sugeriu Elaine Fox.

A pesquisa testou 44 pessoas. Após serem submetidas à informação de que os transmissores estavam ligados, as mais sensíveis reclamaram de incômodo, forte ansiedade e tensão.

Apenas duas pessoas do grupo acertaram quando lhes perguntaram se os transmissores estavam ligados ou desligados. De seis testes, acertaram os seis.

Esse resultado sugere que os sintomas são reais, porém não desencadeados pelas ondas magnética, e sim pelo fato de as pessoas acharem que estão próximas de uma antena telefônica.

A marca da campeã

Maurren Higa Maggi. Ou Simplesmente Maurren Maggi.

Depois da suspensão por dois anos, por causa de doping, a volta por cima.

Ouro na prova do salto em distância, no Pan 2007.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Pé na estrada

A crise aérea está provocando um curioso fenômeno no Brasil: as pessoas estão preferindo viajar de ônibus ou de carro próprio, mesmo quando as distâncias são muito longas. Adeus aeroportos e seus dias de balbúrdia, atrasos, tempo desperdiçado, medo.

O negócio agora é cair na estrada, segundo reportagem do site Congresso em Foco:

Assim como aconteceu no ano passado, quando um avião da Gol caiu ao se chocar com um jato, matando 154 pessoas, a previsão é que o movimento nas estradas aumente agora, depois do acidente com o Airbus da TAM, em São Paulo – tragédia que vitimou aproximadamente 200 pessoas.

Mas será que as nossas estradas são seguras? Não, não são:

Segundo o último levantamento divulgado pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), ainda em 2006, 75% das rodovias brasileiras têm algum tipo de deficiência.

Em termos de acidentes rodoviários, as estatísticas também não são lá animadoras. Entre janeiro e junho deste ano foram registrados 56.671 acidentes, cerca de 10,56% a mais do que o mesmo período de 2006. O total de mortes (3.111) também supera os de 2006.

Se nem tanto para o ar, nem tanto para a terra, o que fazer?

Não restam alternativas para o consumidor.

Segundo especialista ouvido pelo Congresso em Foco, o problema é de falta de “infra-estrutura crítica”, provocada pelo desmantelamento do Estado iniciado há 15 anos no governo Collor.

A conclusão da reportagem é desalentadora: com tantas dificuldades, talvez os brasileiros passem a viajar menos.

TAM: as mentiras do presidente

A imprensa tratou excepcionalmente bem o presidente da TAM. Mas merece aplausos por ter investigado uma outra parte de seu depoimento: aquela em que promete toda a assistência à família das vítimas. Os repórteres foram buscar as vítimas de 1996, quando outro avião da TAM, um Fokker 100, caiu logo após a decolagem em Congonhas, matando os 99 passageiros e três pessoas que estavam por perto. E descobriram que a empresa continua, onze anos depois, discutindo o pagamento.

Do jornalista Carlos Brickman, em sua coluna Circo da Notícia, no Observatório da Imprensa.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Diário do terror nazista

Os horrores do Holocausto, exaustivamente explorados por historiadores, escritores e diretores de cinema, nos dão a impressão de que nada mais há a ser contado.

Mas a revelação do diário de Rutka Laskier, uma judia polonesa de 14 anos, morta em Auschwitz em 1943, prova que o tema é inesgotável.

Rutka vivia no gueto de Bedzin, com os pais e um irmão pequeno. Em janeiro de 1943, ela começou a registrar seu cotidiano assombrado pela presença do nazismo.

No dia 16 de fevereiro de 1939, escreveu:

Hoje vi um soldado alemão arrancar um bebê das mãos de sua mãe e partir-lhe a cabeça com golpes contra um poste de eletricidade. A mãe enlouqueceu. Fico aterrorizada quando vejo uniformes. Estou me transformando num animal à espera da morte.

Mas o diário registra também flagrantes de ternura da adolescente:

Decidi deixar que Janek me beije. Afinal, alguém terá que me dar o primeiro beijo. Então, que seja Janek. Gosto.

Alguns meses depois ela seria deportada com a família para Auschwitz, onde morreria. Antes de partir, Rutka escondeu o caderno sob as escadas da casa onde morava. Confiou o segredo à amiga Stanislawa Sapinska.

Sapinska voltou ao local no fim da guerra, recuperou o diário e o guardou durante todo esse tempo. Incentivada por um primo interessado na história da Polônia durante a II Guerra, Sapinksa decidiu tornar público o drama de Rutka Laskier.

Sua história tem todos os ingredientes que podem transformá-la num sucesso editorial. Não se sabe se com o mesmo alcance do famoso diário de Annie Frank.

Dylan por Bryan Ferry

Dylanesque, o novo álbum do cantor Bryan Ferry, revisita alguns dos grandes sucessos de Bob Dylan.

“Desculpe, Bob”, disse Bryan.

Mas não há o que desculpar. Não é fácil interpretar canções com uma identidade musical tão forte como as de Bob Dylan.

E Bryan Ferry saiu-se bem do desafio. No vídeo acima ele canta Positively 4th Street, um dos eternos sucessos de Dylan.

sábado, 21 de julho de 2007

Turista americana critica a TAM

Não faz muito tempo, a TAM era considerada um exemplo de eficiência no Brasil. A companhia do capitão Rolim Amaro, morto num acidente aéreo, chegava ao mercado estendendo – literalmente – um tapete vermelho para os seus clientes. Não era mera simbologia. Os aviões da TAM detinham o menor tempo de espera em solo. A pontualidade era uma de suas marcas.

Não era pouco num país em que prazos são constantemente desrespeitados, em qualquer atividade. Nem mesmo o acidente com um Fokker em 1996, também em Congonhas, matando 99 pessoas, abalou o prestígio da empresa. Então veio a crise aérea. De um caso de sucesso, a TAM viu-se engolfada num mar de protestos, críticas e reclamações.

A tragédia do vôo 3054 pode ter representado a gota d´água que faltava para que ruísse o que restava de credibilidade na TAM e em todo o sistema aéreo nacional. A comoção e indignação provocadas pelo novo desastre em Congonhas atravessaram fronteiras.

Elizabeth Spiers é uma escritora americana. Vive em Nova York. Em abril deste ano, ela visitou o Brasil com o namorado para passar alguns dias de férias. Em seus deslocamentos pelo país, voaram pela TAM. Em relato publicado na revista Slate, Elizabeth conta a experiência (acesso livre, em inglês):

A TAM é a pior empresa aérea do mundo. Venho afirmando isso repetidas vezes desde abril, quando eu e meu namorado passamos umas férias curtas no Brasil. Retornamos felizes com a viagem, mas traumatizados com a companhia aérea. Na terça, quando o Airbus 320 da TAM, num vôo doméstico, deslizou para fora da pista, tentou decolar de novo e se chocou contra um prédio de cargas da própria empresa, explodindo com o impacto e incinerando quase 200 pessoas, senti, com raiva (e, OK, com presunção), que minha condenação se justificava.

A roda viva em que Elizabeth e o namorado se viram envolvidos é bem conhecida dos brasileiros que têm viajado de avião:

Voamos de Nova York para São Paulo, depois para Manaus. Voltamos para São Paulo. Daí para o Rio. Voltamos de novo para São Paulo. E depois para Nova York. Isso tudo no espaço de nove dias – um itinerário que já seria brutal mesmo sem complicações -, com atrasos de horas em cada vôo, ou cancelamento. Meu namorado, que é repórter de turismo há 15 anos, e já aterrissou em pistas em sua maior parte de grama, com um terminal e um comitê de boas vindas local cobertos apenas por lama e penas de galinha, insiste: A TAM foi a pior experiência que ele já teve.

Nenhum dos fatores da crise aérea brasileira fica de fora da análise da americana. Mostrando-se bem informada, ela nota as dificuldades de trabalho dos controladores, as limitações da infra-estrutura, principalmente do aeroporto de Congonhas, e os constrangimentos que as autoridades impõem à TAM para operar, incluindo sempre escalas compulsivas em São Paulo.

A conclusão de Elizabeth Spiers é um alerta de que o caos aéreo está prejudicando o turismo no Brasil. Assustada com o que viveu, ela garante: embora o país seja bonito, não pretendo retornar tão cedo.

Björk e os musicais americanos

A cantora islandesa Björk é famosa por experimentar várias referências. Em It´s Oh So Quiet, ela faz uma blague divertida dos musicais americanos. A canção, entremeada com compassos de uma valsa lânguida, é marcada pelo ritmo enérgico de big band.

Parece coisa de Hollywood. Mas é mais uma investida cheia de talento de Björk, que também dança no clip.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O fim de um oligarca

Nos obituários sobre Antonio Carlos Magalhães, que morreu hoje em São Paulo, a marca predominante do respeito e da reverência. A voz dissonante ficou por conta de Daniel Piza, que lembrou em seu blog: morreu um oligarca, mas não a oligarquia:

Ouvia o rádio no carro e soube da morte de Antonio Carlos Magalhães. No Brasil, já escrevi, morrer faz muito bem à reputação. Dizer que ACM "modernizou a Bahia" e que seu filho Luís Eduardo seria um "ACM moderno", como se fosse elogio político, é um equívoco. ACM era o tipo de oligarca que mistura paternalismo e autoritarismo e vem dos tempos da República Velha; era um homem muito, muito rico, sobre quem pesavam suspeitas escabrosas, e que em mais de um episódio se mostrou, digamos, amigo das forças ocultas. Apoiou os militares, dominou a mídia regional, participou de inúmeras armações parlamentares. Espalhou seu nome por toda a Bahia, em muitas obras públicas, colheu abraços de artistas como Caetano Veloso e elogios de jornalistas "de esquerda", e os tucanos fizeram com ele o principal pacto para chegar ao poder. Nada disso significa que a Bahia e o Brasil não poderiam estar melhores se não fosse por ele. E afirmar que era pessoa doce com os íntimos e capaz de dividir ambientes entre os que o amam e o odeiam não torna seu legado mais leve. Por sinal, um oligarca morreu, mas outros seguem firmes e há toda uma mentalidade incrustada no sistema político que é oriunda deles - e se vê nessa ampla confusão entre privado e público, entre laços pessoais e méritos profissionais.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

You Tube: herói ou vilão?

Com cerca de 100 milhões de acessos diários, o You Tube é o maior sucesso da Internet. Sob o slogan “transmita você mesmo”, o mega site passou a representar o ideal de democratização da imagem num universo monopolizado por emissoras de TV e estúdios de cinema.

A promessa de que o You Tube quebraria esse monopólio não se concretizou. É o que acredita Nick Douglas, em artigo na Slate:

Era de se esperar que a Internet transformasse o mundo do vídeo em igualitário. Nunca mais uma oligarquia de provedores de conteúdo – algumas redes de TV, alguns grandes estúdios de cinema – controlaria aquilo que assistimos. A web dá às pessoas criativas uma audiência potencial de milhões, bem como incontáveis espaços para mostrar suas criações. Mas não é o rumo que as coisas tomaram. O vídeo na web não é uma oligarquia, é uma ditadura. Ou você está no You Tube, ou ninguém está assistindo.

Essa dominação acaba criando um mal-entendido, o de que achamos que web video é sinônimo do que aparece no You Tube. Isso, segundo Nick Douglas, tem limitado o significado do que pode ser video on line, e por causa dessa hegemonia outras opções inovadoras ficam eclipsadas.

Embora o You Tube não represente a única plataforma em que se pode veicular vídeos, acaba abocanhando 60% do tráfego on line. Além disso, Nick Douglas lembra que o site não foi o pioneiro em abrigar vídeos, mas o primeiro a fazê-lo bem. Inovações como o formato Flash, eliminando a exigência de plug-ins, asseguraram o sucesso da iniciativa. Outro fator determinante é que seus criadores não se apressaram em abolir conteúdo protegido por copyright.

O poder do You Tube é esmagador. Nick Douglas fornece um exemplo. Em agosto de 2006, um sujeito chamado Noah Kalina postou um mesmo vídeo simultaneamente no Vimeo e no You Tube. Foram registrados, desde então, 6 milhões de visitas no You Tube, contra apenas 100 mil no Vimeo.

Então, ante domínio tão avassalador, Nick Douglas indaga: de que forma outros sites poderão competir?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Aterrisando num porta-aviões

A pista de 1.939 metros do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tem sido repetidamente criticada como perigosamente curta. No dia anterior, dois aviões derraparam com tempo chuvoso.

Os pilotos a chamam de porta-aviões.

É tão curta, e rodeada por bairros densamente povoados, que os pilotos são avisados para decolar e voar em círculos, caso ultrapassem os primeiros 300 metros de pista.

Por contraste, o aeroporto LaGuardia, em Nova York, tem 2.135 metros de pista que acomoda aviões similares, de acordo com a Administração de Aviação Federal dos Estados Unidos.


Trecho da matéria do correspondente Stan Lehman, da Associated Press, sobre a tragédia de ontem em São Paulo.

Muitas são as hipóteses que tentam explicar as causas do desastre com o Airbus da TAM: ausência de grooving (ranhuras que ajudam a escoar a água da pista), falha do piloto - que teria tocado o solo além do ponto permitido e tentado decolar de novo -, excesso de peso, problemas mecânicos na aeronave, acquaplanagem.


Será preciso esperar 10 meses para que o resultado das investigações seja conhecido. Mas, se for tomado como parâmetro a infra-estrutura do LaGuardia, apenas um pouco mais de pista em Congonhas poderia ter evitado uma catástrofe.

Foto: Agência Estado

terça-feira, 17 de julho de 2007

A tragédia de Congonhas

Um especialista, falando minutos atrás ao jornal da TV Cultura, comparou o aeroporto de Congonhas a um porta-aviões. Para quem já teve a oportunidade de chegar ou partir de Congonhas, a comparação é perfeita. A impressão é de que os aviões irão colidir a qualquer momento com um dos vários prédios da região. Assustador.

O acidente com o Airbus A-320 da TAM, que pode ter vitimado 176 pessoas, repercutiu em praticamente todos os grandes portais de notícias on line do planeta:

Alguns:

CNN: Avião cai no aeroporto de São Paulo

New York Times:
Avião de passageiros cai em São Paulo

BBC:
Avião no Brasil pega fogo após colisão

Três horas depois do acidente, a mídia televisiva brasileira deu uma pausa na cobertura ao vivo. A TV Cultura mantém o assunto com flashes e análises de autoridades. Instantes atrás mostrou um desabamento provocado pelo reflexo do impacto da aeronave da TAM.

A Bandeirantes ofereceu a cobertura mais vibrante, apesar das intervenções de Datena, com direito às lágrimas ao vivo da repórter Eleonora Paschoal, que se emocionou ao testemunhar a retirada das primeiras vítimas do prédio da TAM Express.

O desastre em São Paulo é o segundo num curto espaço de tempo. Não é preciso ser especialista em Brasil para saber que, logo, terá início um grande jogo de empurra para descobrir a quem atribuir a culpa por mais uma grande tragédia aérea.

A cara do Congresso

No Brasil, as peripécias do Congresso monopolizam a cobertura da mídia. De tal forma que, não sem razão, a grande imprensa é acusada de ser monotemática, com seu foco direcionado para os bastidores da política de Brasília.

Mas, afinal de contas, quais são os grupos que hoje compõem o Congresso Nacional? O que ou quem de fato representam? E o que planejam desenvolver na atual legislatura?

As respostas estão no livro
O que esperar do novo Congresso – perfil e agenda da legislatura 2007/2011, lançado em maio, em Brasília, numa iniciativa do site Congresso em Foco.

O livro revela, entre outras coisas, que
os empresários estão em alta no Congresso. Dos 618 congressistas eleitos este ano, 219 são empresários distribuídos entre senadores (190) e deputados (29). Desde 1995 que não se faziam presentes de forma tão numerosa.

Outra bancada em ascensão é a dos ruralistas. Somam 120 membros no Congresso. Por outro lado, os evangélicos e os sindicalistas estão em baixa. O mesmo pode ser dito da representatividade das mulheres (9%) e dos negros (2,5%)

Outra informação curiosa do livro é que, apesar dos azarões, os fatores determinantes para a vitória de um candidato são
o dinheiro, o poder e o berço.

Nesse balanço do Congresso, não poderia ficar de fora a questão familiar, tão cara na perpetuação das relações de poder nestes tristes trópicos. Trata-se da
bancada dos parentes de políticos tradicionais – mães, filhos, irmãos, netos, cônjuges -, que responde por 112 integrantes (92 deputados e 30 senadores).

O livro teve o financiamento do grupo Brasil Telecom.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Contra o veneno da religião

O jornalista Christopher Hitchens é um provocador. Os brasileiros puderam vê-lo de perto durante a Flip do ano passado. Em meio à onda antiamericanista que prevaleceu na festa de Paraty, Hitchens pôs o dedo na ferida e defendeu a ação americana no Iraque.

Sua metralhadora giratória não poupa qualquer tipo de autoridade. Sobre Madre Teresa de Calcutá, Hitchens disse que ela era uma “fanática, uma fundamentalista, uma fraude”. “Estuprador”, foi a farpa que dirigiu contra Bill Clinton. E não deixou por menos a respeito de Reagan: “Um lagarto estúpido e cruel”.

Agora o alvo de Christopher Hitchens é Deus.
Em seu livro “God is not great – how religion poisons everything”, ou “Deus não é grande – como a religião envenena todas as coisas”, ainda inédito no Brasil, ele combate a idéia de religião.

Hitchens falou do seu novo livro à revista literária Powells.

Eis o início da longa entrevista (acesso livre, em inglês):
Powells - Seu livro é um dos muitos que foram lançados recentemente contestando a religião.

Hitchens: É verdade. Livros como esse têm feito mais do que fariam há alguns anos. Acho que é porque as pessoas já estão fartas de intimidação religiosa: os cartuns dinamarqueses, a maneira como os partidos de Deus estão se comportando no Iraque e em outros lugares, e a tentativa de ensinar lixo às nossas crianças sob o pretexto estúpido do Desenho Inteligente, que acredita que a Aids é ruim, mas preservativos são piores. Acho que as pessoas estão cheias desse assunto. Daí que uns poucos indivíduos importantes e excelentes, como Daniel Dennet e Richard Dawkins, decidiram que é hora de sair e combater isso. Tenho a sorte de estar seguindo a onda deles, de estar sob suas influências.

sábado, 14 de julho de 2007

Brasileiros, a revista

Acaba de chegar às bancas a revista Brasileiros, a mais nova empreitada de um time de jornalistas liderado por Ricardo Kotscho e Nirlando Beirão. A proposta do novo veículo mensal é revelar um Brasil ausente da grande imprensa.

Neste sentido, a Brasileiros mira no exemplo da extinta revista Realidade, que em sua época, em pleno regime militar, apostava em caudalosas reportagens revelando um Brasil profundo e desconhecido. Não é exagero afirmar que a Realidade foi a primeira a praticar no país um tipo de jornalismo que ficou conhecido como new journalism.

Não à toa, a Brasileiros traz nessa edição inaugural uma entrevista com o escritor e jornalista Gay Talese, um dos pais daquele novo jornalismo, cuja filosofia era dar um tratamento literário ao conteúdo jornalístico, em longas reportagens. Muitas delas se transformaram em livros famosos, escritos por expoentes como Tom Wolfe, Truman Capote e Joe Gould.

Nollywood, o cinema na África

A terceira indústria cinematográfica do planeta está... na África. Mais exatamente na Nigéria, de acordo com reportagem da revista Wired. Perde apenas para Bollywood, na Índia, e Hollywood, nos Estados Unidos. Em Nollywood, como tem sido chamado esse mercado, os cineastas produzem seus filmes em digital, editam em computadores caseiros e os vendem em VHS, DVD ou VCD. Com isso, criaram uma indústria de 250 milhões de dólares.

O que parece ser algo incompreensível para os padrões gigantescos de Hollywood se transforma em algo corriqueiro na Nigéria. Cineastas concluem filmes em prazos curtos, às vezes em até uma semana, e com baixo orçamento.

Essa indústria florescente foi alvo de dois documentários. No primeiro,
This is Nollywood, os diretores Franco Sacchi e Robert Caputo acompanharam o diretor nigeriano Bond Emeruwa durante a realização do filme Check Point. O filme foi finalizado em apenas nove dias e custou 20 mil dólares.

Já no documentário Welcome to Nollywood, o documentarista Jamie Meltzer examinou o trabalho de três famosos diretores nigerianos em ação para completar seus filmes em prazos curtos e com orçamentos restritos.

Nollywood é movimentada por um grupo de cerca de 300 diretores, que chegam a produzir 2400 filmes por ano. A maior parte dos filmes é falada em inglês, fator que permite alcançar um público multilingüe.

A temática dos filmes engloba desde preocupações que refletem as transformações culturais e políticas que têm assolado aquele pedaço da África, como a corrupção, a Aids e a prostituição, até o folclore e comédias românticas. O objetivo é mostrar uma África sem qualquer tipo de filtro.

Nesse estágio do cinema nigeriano, o foco dos produtores não está ainda na qualidade, mas na massificação. No continente, a maioria das pessoas vive com apenas 1 dólar por dia.

A longa vida do tango



Do derramamento dramático de Carlos Gardel à revolução de Astor Piazzolla, o tango permanece como símbolo musical da Argentina. Uma nova leitura do gênero tem sido realizada pelo Gotan Project, grupo argentino criado há cinco anos. Incorporando elementos da música eletrônica à rígida tradição do tango, o Gotan tem obtido resultados surpreendentes, como na canção acima intitulada "Diferente".


quinta-feira, 12 de julho de 2007

Pan sem estrelas

O pan do Rio já começou.
A festa custou 2 bilhões de dólares, oito vezes mais do que o valor inicialmente projetado. Deverá se tornar um acontecimento inesquecível na história da cidade.

Há, porém, uma sombra pairando sobre o evento: a
ausência de grandes estrelas na competição.

A lacuna foi comentada pela revista Sports Illustrated:

Décadas atrás, os jogos pan-americanos eram uma parada essencial para atletas latino americanos competindo para integrar suas equipes olímpicas. Americanos e canadenses enviavam suas maiores estrelas. Hoje muitos atletas da região simplesmente evitam os jogos, e a competição é utilizada na maioria das vezes para desenvolver jovens atletas.

Tornar o pan um espetáculo grandioso, como está sendo planejado no Rio, é, segundo a revista, uma estratégia brasileira para atrair outros eventos esportivos relevantes, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Todo esse esforço, porém, não deve esquecer o fato de que os jogos pan-americanos perderam algo do seu brilho enquanto competição esportiva.
Alguns números ilustram a decadência do pan: seus últimos recordes mundiais foram obtidos em 1979. E não se espera que sejam quebrados no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

The Nation, mais uma vítima

Há algumas semanas, o site NoMínimo foi à falência. Apesar dos esforços dos seus editores, não apareceu ninguém no mundo empresarial que quisesse continuar bancando a experiência jornalística mais radical da Internet brasileira.

Porém, não é só nos tristes trópicos que editores necessitam passar o pires para continuar defendendo uma proposta jornalística alternativa. Quem acessou hoje o site da revista The Nation, umas das poucas vozes independentes na atual imprensa americana, surpreendeu-se com uma mensagem assinada por sua publisher e editora Katrina Vanden Heuvel.

Eis a mensagem:

Em alguns dias, The Nation pagará uma das maiores contas que já tivemos de enfrentar – meio milhão de dólares-, por causa de um esquema no aumento das tarifas postais projetado por lobistas do conglomerado TimeWarner. Os custos postais para mega revistas como a Time, People e Sports Illustrated, do próprio grupo TimeWarner, continuarão muito menores, ou, em alguns casos, diminuirão, enquanto publicações menores, como The Nation, serão atingidas por um enorme aumento nas tarifas.

A solução encontrada por The Nation foi apelar para as doações dos seus leitores. Quem atender à convocação de Katrina Vanden Heuvel poderá fazer doações de 50 a 500 dólares, e qualquer outro valor espontâneo acima desse limite, com débito autorizado no cartão de crédito.

Se o esquema não funcionar, o The Nation terá de reduzir o alcance de sua cobertura, o que atingirá reportagens investigativas e assuntos ignorados pela grande mídia corporativa.

O momento crítico vivido por The Nation não deixa de ser um consolo para os que lamentaram o fim do NoMínimo. Em ambos os casos, guardadas as devidas proporções, são duas situações que evidenciam uma catástrofe há muito em curso. No caso do site brasileiro, o desinteresse dos donos do dinheiro em investir numa opção inteligente. No caso americano, o poder tentacular das grandes corporações midiáticas e sua estratégia para sufocar qualquer reação crítica ao establishment nos Estados Unidos.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Biocombustíveis e a discórdia entre Bush e Fidel

Na revista Slate, William Saletan coloca Bush e Fidel frente a frente. O antagonismo não é mais a defesa intransigente do capitalismo de um lado e o socialismo do outro, mas a produção de biocombustível como fonte de energia que poderá substituir o petróleo.

“Quando você pensa que George W. Bush e Fidel Castro estão mortos – um politicamente e outro literalmente -, eis que reaparecem. A nova luta de ambos é pelo biocombustível, a conversão de coisas vivas em energia líquida. Um presidente diz que isso é um assalto à natureza e à humanidade. O outro diz que é uma revolução agrícola que libertará as massas. Bush é revolucionário. Castro, um reacionário”, escreveu Saletan.

Enquanto Bush aparece como um evangelizador na defesa do uso do biocombustível, principalmente depois que perdeu o controle do Congresso americano, Fidel surge defendendo o oposto. Para o chefe cubano, a idéia não passa de uma "monstruosidade".

A principal crítica de Fidel é que o biocombustível consumirá toda a oferta mundial de alimentos, levando fome às massas. O argumento de Fidel Castro acabou repercutindo e influenciando publicações de peso como a revista The Economist e a Foreign Affairs.

A Foreign Affairs, inclusive, veiculou um artigo com o título apocalíptico "Como os biocombustíveis irão matar os pobres de fome".

William Saletan contesta Fidel e se revela um entusiasta dessa nova matriz energética. Ele acredita que o biocombustível é a tecnologia do futuro. Será o ápice de uma transformação que começou com a revolução da agricultura, passou pela indústria e chegou à era da informação.

domingo, 8 de julho de 2007

Sinal dos tempos

A Tecnimage, fábrica de aparelhos de TV com tubos catódicos, a última do planeta, está fechando as portas, segundo reportagem (acesso livre, em espanhol) de hoje do jornal El País. Instalada em Barcelona, a empresa foi comprada pela poderosa Phillips holandesa em 1994. Tentativas de explorar novos segmentos, como os de equipamentos de LCD, não lograram êxito. O grupo não conseguiu honrar compromissos acumulados de 5 milhões de euros. Cento e trinta nove pessoas perderão seus empregos.

O desaparecimento da Tecnimage se deve ao sucesso dos televisores de tela plana que começam a invadir o mercado. O El País informa que em 2005 foi vendido um milhão desses aparelhos, número que dobrou em 2006. Para 2007 estima-se que as vendas atinjam os 3 milhões de unidades. Além do atrativo em si, há a seguida queda de preços, algo em torno de 40% só nos últimos 12 meses.

O universo dos muito ricos

Os Estados Unidos possuem 3 milhões de milionários e 400 bilionários. Essa casta vive num país próprio, sem contato com pessoas pobres ou da classe média. O economista americano Robert Frank pesquisou os hábitos e costumes desses intocáveis e escreveu a respeito no livro “Riquistão”, nome de um lugar imaginário onde vivem os muitos ricos.

“Nunca foi possível enriquecer tanto e tão rápido na História. Não bastasse isto, tanto o governo Clinton quanto o Bush diminuíram os impostos para os mais ricos, nos EUA”, revelou Robert Frank ao jornalista Pedro Dória, em ótima entrevista (acesso livre) publicada hoje no Caderno Aliás, do Estadão.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Rock´n´roll contra o aquecimento global

Tudo começou com o Concerto de Bangladesh, que teve como objetivo destinar fundos para combater a fome naquele país da África. O anfitrião foi George Harrison. O ex-beatle convocou uma constelação de astros para iluminar a festa.

Anos depois, foi a vez do USA for Africa unir as vozes de mais um time de estrelas do rock num basta contra a fome... na Africa. Depois veio o Live Aid, organizado por Bob Geldof. Décadas depois, o Live 8, também sob a batuta de Bob Geldof. E seguiram-se outros concertos de caráter humanitário pelos anos afora.

Agora a performance da vez é o Live Earth, e a razão de ser do evento é somar as guitarras contra as mudanças climáticas no Planeta. Trata-se de um megashow com previsão para durar 24 horas e ser assistido por 2 bilhões de pessoas. As apresentações acontecerão em 8 cidades: Londres, Xangai, Tóquio, Hamburgo, Nova York, Rio de Janeiro, Sidney e Joanesburgo.

A questão é: haverá entusiasmo para mais uma iniciativa dessa natureza? O London Telegraph levantou a questão e despachou ( acesso livre, em inglês) seus repórteres para conferir o ânimo do público nessas oito cidades. Para o jornal londrino, o Live Earth deve enfrentar o seu maior desafio: o desinteresse global.

Contudo, ao contrário da suspeita ventilada pelo jornal, os ânimos estão em alta para os shows. Em Londres, o Live Earth deverá ser visto por 90 mil pessoas no Wembley Stadium. Uma soma de fatores, como a ameaça de ataques terroristas e mudanças climáticas, poderia estar influenciando negativamente a realização do concerto. Mas os organizadores asseguram que a procura por ingressos foi tão alta que teriam vendido até duas vezes mais. Madonna será uma das grandes atrações em Londres, que terá ainda Metallica, Duran Duran, Genesis, Beastie Boys e até uma participação de Paul McCartney.


No Rio, o Live Earth deverá rolar na praia de Copacabana. O grande nome anunciado para a versão brasileira é Jorge Ben Jor. Para o London Telegraph, no Brasil o concerto verde só terá esse significado para uma elite de brasileiros educados e “eco-conscientes”. Para a grande massa desinformada, o concertão não passará de mais uma festa. Está ou não está coberto de razão?

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Encontro de dois monstros

Paul Auster não fala espanhol. Enrique Vila-Matas não fala inglês. Algumas coincidências os rodeiam. Ambos são editados na Espanha pela Anagrama. E tanto um quanto o outro morou em Paris. Foi relacionando essas semelhanças e diferenças entre eles que a revista Câmbio documentou o encontro dos dois monstros (acesso livre, em espanhol) no Instituto Cervantes, de Nova York.

No Brasil Vila-Matas ficou conhecido depois da publicação dos seus romances Bartebly e companhia e O mal de Montano. Já Paul Auster tem uma relação mais antiga com o leitor brasileiro. Dele já foram lançados por aqui: O livro das ilusões, A invenção da solidão e A trilogia de Nova York, entre outros romances.

O encontro entre o americano e o espanhol rendeu curiosas confissões de ambos os lados. Falando ao público do Cervantes, Vila-Matas conta que decidiu se dedicar à literatura inspirado pelo papel romântico que o ator Marcelo Mastroianni interpretou no filme A noite (de Michelangelo Antonioni). Na história, Mastroianni era casado com uma mulher elegante e talentosa, capaz de ler 200 páginas por dia. Mas Vila-Matas logo se deu conta de que para ser escritor de verdade tinha de escrever e deixar de ser Mastroianni.

Tanto um quanto outro foram questionados se algum dia se sentiram bloqueados. A resposta de Enrique Vila-Matas: “O escritor que não se encontra com o abismo, não é um escritor.” E a de Paul Auster: “Eu só espero poder escrever amanhã”.

Super mãezona

Parece ficção científica. A advogada canadense Melanie Boivin, de 35 anos (foto ao lado), doou os próprios óvulos à sua filha Flavie, de sete anos. A menina nasceu com síndrome de Turner, uma doença que provoca o malfuncionamento dos ovários, por causa da ausência de um dos cromossomos X. Devido à falha genética, Flavie poderá não ter filhos. Com o ato maternal, aumentam suas chances de ser mãe – só que do meio-irmão. E Melanie seria ao mesmo tempo avó e mãe da mesma criança.

Pela permissão concedida por Melanie, os óvulos permanecerão congelados durante 20 anos. Ela deixou claro que a questão da fertilidade a entristeceu muito, por isso doou os ovários. No fim das contas, porém, teria doado qualquer órgão, até um rim, para a filha. Uma ampla e incondicional prova de amor maternal.

Melanie não quer que a filha se sinta obrigada a utilizar os óvulos maternos, quando o momento da decisão chegar. E, se chegar, ela terá de deixar de lado a questão ética. Mais uma vez, poderá contar com o apoio da super mommy. “Se ela quiser ir adiante, a criança será como qualquer outro neto para mim”, disse Melanie. Matéria completa aqui (acesso livre, em inglês) via revista Nature.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Globo na lona

Nada a ver com a poderosa Rede Globo. Quem está indo a pique é a Livraria do Globo, considerada um dos símbolos da Rua da Praia, em Porto Alegre. Segundo matéria do Jornal Já, da capital gaúcha, uma loja de varejo ocupará o espaço antes reservado aos livros. Na vitrine serão expostos eletrodomésticos e móveis. Os livros ficarão restritos a uma vitrine dos fundos, “um tradicional reduto de camelôs”.
Quem assistiu ao filme Mensagem para você pôde acompanhar a revolta impotente de uma dona de livraria (Meg Ryan) que vê seu negócio ir pelo ralo, tragado por uma megastore de livros de propriedade de Tom Hanks, seu par nessa comédia romântica.

No caso da Livraria do Globo, não foi somente a concorrência de grandes grupos, como a Siciliano, Saraiva e Cultura, que está decretando o fim de uma empreitada que teve inicio em 1883. A má gestão também foi um forte ingrediente. Simplesmente faltou crédito. A empresa acumulou dívidas de R$ 1 milhão distribuído por sete bancos. E ainda passou a enfrentar ações de despejo de aluguéis de filiais.
Com o fim da livraria fecha-se uma página da história da vida cultural portoalegrense. Nos tempos áureos, a Globo mantinha uma sala dos tradutores onde se reuniam alguns pesos pesados dos pampas, como Herbert Caro, Mário Quintana e Érico Veríssimo.

domingo, 1 de julho de 2007

Jovens autores

Jovens autores sempre existiram na literatura. Mas hoje os candidatos a enfant terrible das letras contam com a mão providencial do marketing. E com o beneplácito dos cadernos de literatura, sabidamente mancomunados com as grandes editoras. Esse é um fenômeno particularmente forte no Brasil. Ponto pacífico.

Aqui e ali, contudo, surge um crítico disposto a desafinar o coro dos contentes. Foi o que fez Alcir Pécora, professor livre-docente e crítica literária da Unicamp. Disposto a tirar a limpo a mais recente safra de jovens escritores que debutaram e foram aclamados com entusiasmo pela mídia, como Santiago Nazarian, Daniel Galera e outros, Alcir se debruçou sobre seus livros.

O resultado dessa leitura está no Caderno 2 do Estadão, no texto
O que existe de novo no front (acesso livre).

Do universo analisado, cerca de seis romances, Alcir salva a pele apenas de Daniel Galera e Carola Saavedra, ainda assim com ressalvas. Sobre Galera, Alcir chega a comentar que encontrou alguém "do ramo". E observa que Carola é estrangeira. No final, o saldo não é lá muito positivo para os outros noviços analisados pelo crítico.