Mas esse escritor surgiu.
Roberto Bolaño, cuja obra passa a ser conhecida no Brasil somente agora, é o cara. Nascido em Santiago do Chile em 1953, Bolaño viveu muito tempo no México e depois partiu para a Europa. Mais exatamente para a Espanha, como um expatriado, fugindo do golpe militar que derrubou o governo democrático de Salvador Allende.
Na Espanha, impossibilitado de trabalhar legalmente, Bolaño exerceu diversas atividades. Foi lavador de pratos, vigia noturno, camelô. Apesar das adversidades, jamais abandonou a literatura. No México, fez parte de algumas vanguardas poéticas. Essa experiência será o mote do caudaloso romance Os detetives selvagens, um dos três livros dele agora disponíveis ao leitor brasileiro, em edição da Companhia das Letras. O leitor que se regalar com Os detetives selvagens poderá mergulhar nos outros dois: Noturno do Chile e A pista de gelo.
No livro A verdade das mentiras, Vargas Llosa analisa o romance moderno. Ele escreveu: “Em todas as obras-primas do gênero, esse fator quantitativo – ser abundante, múltiplo, duradouro – está sempre presente: em geral, o grande romance é, também, grande”. Claro que há exceções. Mas, no caso de Os detetives selvagens, podemos afirmar: na mosca! Suas mais de 600 páginas são puro deleite de inventividade, energia criativa, irreverência e humor corrosivo. A história dos poetas real-visceralistas Ulises Lima e Arturo Belano, uma espécie de alter-ego de Roberto Bolaño, é na verdade uma “carta de amor” a sua geração, conforme ele afirmou certa vez.
Uma das matrizes literárias de Bolaño é o romance policial, porém esse não é um recurso que ele utilize da forma costumeiramente conhecida. Para Bolaño, o que menos importa é solucionar o crime. O que interessa mesmo é narrar os dramas humanos e seus mistérios insondáveis, tudo sob o efeito magnetizador de uma linguagem poderosa.
Roberto Bolaño morreu em 2003, aos 50 anos, de insuficiência hepática, mas antes teve a sorte de ver sua literatura reconhecida através dos vários prêmios que ganhou, e do reconhecimento (e algumas vezes do refugo) da crítica. Um ótimo histórico da vida e da obra de Bolaño pode ser lido aqui (em espanhol). E aqui uma entrevista (dividida em 6 partes) que ele concedeu à TV chilena.
Um escritor da estatura de Bolaño não deixou de atrair detratores. A revista Entrelivros que está nas bancas traz uma ótima análise do escritor espanhol Javier Cercas, a qual rebate boa parte da crítica (infundada) sobre a obra do chileno.
3 comentários:
Fico curiosa... Despertaste-me o interesse.
Belo blog, limpo, claro, com excelente qualidade de fotos, trabalho de formiguinha do Incansável Paulo. Meus parabéns!
Concordo integralmente.
E o termo Bolañolatria é ótimo.
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