sábado, 23 de junho de 2007

Uma pedra rolando

“Você não precisa ser um meteorologista para saber de que lado o vento está soprando”. Lida dessa forma, essa máxima soa fora de contexto, não? Contudo, fez muita gente refletir nos badalados anos 60. Saíram da cabeça pensante de Bob Dylan, proclamado um dos porta-vozes daquela geração.

Dylan está com 63 anos. Não é mais o garoto que provocou furor nos bares do Village, em Nova York, em suas primeiras aparições tocando um violão, soprando uma harmônica, destilando revolta inteligente contra o sistema. “Like a rolling stone”, um dos seus libelos mais famosos, foi eleita a canção do século numa enquete realizada pela revista Rolling Stone, em 2004. Foi a vitoriosa entre 500 músicas. Passado tanto tempo, as pedras continuam rolando para o bardo fanhoso nascido Robert Zimmerman em Ribbing, Minesotta.

Que o diga a entrevista por ele concedida à Rolling Stone, e reproduzida na Rolling Stone Brasil, edição de banca, em comemoração aos 40 anos da revistona americana. A idade parece ter “amaciado” Dylan, mas, olhando bem o que ele disse na entrevista, não é difícil perceber que nele permanecem as diversas personas que o caracterizaram como um dos artistas mais criativos do século 20. Lá estão: o visionário, o profeta, o poeta, o contestador, o individualista, o polêmico, o sábio.

Querem uma amostra de como Dylan ainda é capaz de propor leituras originais mesmo para temas tão surrados como os anos 60? Ele sustenta uma tese no mínimo polêmica: toda a energia que fermentou e fervilhou os trepidantes sixties só foi possível por causa da explosão da bomba atômica. Esses poderosos fluxos de energia permaneceram reverberando décadas afora e explicam o talento de tudo de rebelde e original que eclodiria na música americana, tempos depois. “Se você reparar em todos esses performers originais, eles eram movidos a bomba atômica: Jerry Lee, Carl Perkins, Buddy Holly, Elvis, Gene Vincent, Eddie Cochran”, afirmou Dylan na entrevista.

Mas nada parece definir mais a personalidade de Bob Dylan e, de certa forma, explicar sua trajetória camaleônica do que a resposta que deu sobre toda essa onda do aquecimento global e a necessidade de soluções por parte dos políticos: “Não espero que os políticos resolvam os problemas de ninguém. Nós temos que pegar o mundo pelos chifres e resolver nossos próprios problemas. O mundo não nos deve nada, não nos deve absolutamente nada”.

É como estivéssemos diante do Dylan de 19 anos, em início de carreira, confiando suas forças apenas na sua energia juvenil, lutando contra tudo e contra todos e abrindo caminho para deixar sua marca de um dos artistas mais originais que a cultura americana já produziu.


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