Dylan está com 63 anos. Não é mais o garoto que provocou furor nos bares do Village, em Nova York, em suas primeiras aparições tocando um violão, soprando uma harmônica, destilando revolta inteligente contra o sistema. “Like a rolling stone”, um dos seus libelos mais famosos, foi eleita a canção do século numa enquete realizada pela revista Rolling Stone, em 2004. Foi a vitoriosa entre 500 músicas. Passado tanto tempo, as pedras continuam rolando para o bardo fanhoso nascido Robert Zimmerman em Ribbing, Minesotta.
Que o diga a entrevista por ele concedida à Rolling Stone, e reproduzida na Rolling Stone Brasil, edição de banca, em comemoração aos 40 anos da revistona americana. A idade parece ter “amaciado” Dylan, mas, olhando bem o que ele disse na entrevista, não é difícil perceber que nele permanecem as diversas personas que o caracterizaram como um dos artistas mais criativos do século 20. Lá estão: o visionário, o profeta, o poeta, o contestador, o individualista, o polêmico, o sábio.
Querem uma amostra de como Dylan ainda é capaz de propor leituras originais mesmo para temas tão surrados como os anos 60? Ele sustenta uma tese no mínimo polêmica: toda a energia que fermentou e fervilhou os trepidantes sixties só foi possível por causa da explosão da bomba atômica. Esses poderosos fluxos de energia permaneceram reverberando décadas afora e explicam o talento de tudo de rebelde e original que eclodiria na música americana, tempos depois. “Se você reparar em todos esses performers originais, eles eram movidos a bomba atômica: Jerry Lee, Carl Perkins, Buddy Holly, Elvis, Gene Vincent, Eddie Cochran”, afirmou Dylan na entrevista.
Mas nada parece definir mais a personalidade de Bob Dylan e, de certa forma, explicar sua trajetória camaleônica do que a resposta que deu sobre toda essa onda do aquecimento global e a necessidade de soluções por parte dos políticos: “Não espero que os políticos resolvam os problemas de ninguém. Nós temos que pegar o mundo pelos chifres e resolver nossos próprios problemas. O mundo não nos deve nada, não nos deve absolutamente nada”.
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