segunda-feira, 11 de junho de 2007

Frida Kahlo é fashion

No próximo mês de julho, Frida Kahlo completaria cem anos. Nada mais natural que a data seja uma boa oportunidade para celebrar a memória da grande artista mexicana. No entanto, se depender dos familiares dela, o centenário terá uma utilidade, por assim dizer, menos nobre. Em sociedade com um astuto empresário, a sobrinha e herdeira de Frida, Isolda Pinedo Kahlo, tem utilizado a imagem da tia para transformá-la numa marca.

“A Frida Kahlo Corporation lancará no mercado cinco modelos distintos de sapatos esportivos com imagens da artista. Planejam também uma linha de roupa. O que pensaria esta artista que lutou no campo do comunismo?”, questiona a revista Gatopardo, do México, na matéria “Frida Kahlo Corporation” (
aqui, em espanhol).

O suposto purismo da arte em oposição à sua massificação colocada como um fato inexorável pelas leis do mercado tem promovido embates intermináveis. Indústria cultural, é como a coisa é chamada. Se viva fosse, Frida estaria imune a essa contaminação, e, por que não dizer, necessidade de sobrevivência num mundo em que o sentido da arte - ou a sua utilidade – tem sido posta em xeque?

Vá lá saber. Frida era um personagem excêntrico mesmo entre artistas. Seu polêmico relacionamento com o muralista mexicano Diego Rivera só fez exacerbar o mito em torno da sua figura. Mas até que ponto ela desaprovaria o uso de sua arte para alimentar a produção de mercadorias, da mesma forma que um sabonete ou um shampoo?

Como ela está morta, jamais saberemos. Enquanto isso, sua esperta sobrinha e o empresário Carlos Dorado alimentam planos mirabolantes de faturamento sobre o legado de Frida Kahlo. No negócio, Dorado leva 51% de participação. Diz a Gatopardo que ele já investiu 9 milhões de dólares na empreitada.

Algumas vozes erguem-se, porém, contra esse complô de comercialização do legado de Frida Kahlo. “É a prostituição de Frida”, bradou Ruth Alvarado Rivera, neta de Diego Rivera. Já Raquel Tibol, que conheceu Frida e Diego Rivera e chegou a escrever a biografia de ambos, não deixou por menos: “Não falarei desse mercantilismo perverso, nem me ponha nas mesmas páginas que Isolda”.


Sob protestos ou não, a Frida Kahlo Corporation mira o mercado, e o mais provável é que logo possamos usar sapatos, camisetas e calças com exclusivas etiquetas Frida Kahlo. Façam suas encomendas.

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