terça-feira, 28 de agosto de 2007

As sombras de Stálin

A prática de confinar opositores em hospitais psiquiátricos, uma velha arma do stalinismo, ainda se mantém em voga na Rússia.

No ano passado, pelo menos dez jornalistas, ativistas políticos e críticos de autoridades locais foram hospitalizados erroneamente em hospitais para doentes mentais.

Nada tão disseminado a ponto de fazer lembrar os tempos dos temíveis gulags, campos de concentração localizados em regiões inóspitas e geladas, como a Sibéria, usados por Stálin para silenciar seus inimigos.

Hoje, o tratamento psiquiátrico imposto para fins políticos é mais raro, mas segue como um recurso usado por familiares inescrupulosos para limpar do mapa parentes inconvenientes. O objetivo: ganhos financeiros.

Tudo isso tem acontecido com o aval dos próprios psiquiatras. Eles aceitam suborno e falsificam diagnósticos o tempo todo, segundo denúncia da Associação Psiquátrica Independente. Mas seu presidente, Yuri Savenko, afirma que tem conhecimento de casos quase que diários de internamentos em hospitais estatais, com objetivos políticos.

O caso mais notório é o da jornalista Larisa Arap, de 48 anos, moradora de uma pequena localidade de Murmansk. Em junho passado, ela concedeu a um jornal local uma entrevista em que fazia críticas ao hospital psiquiátrico da região.

Um dia Larisa foi fazer um exame de rotina para renovar a carteira de motorista e acabou presa, despida e sedada no hospital. Larisa, que integra um movimento de oposição ao Kremlin, acabou sendo libertada graças à pressão da mídia internacional. Seu caso foi revisto e ela, declarada mentalmente apta.

Existem, contudo, outros casos em andamento. O jornalista Andrey Novikov, de Rybinsk, na Rússia central, é mantido em tratamento psiquiátrico por criticar a polícia de Vladimir Putin na Chechênia.

Como os mais velhos têm analisado esses remanescentes do stalinismo? Vladimir Bukovsky, que em 1960 foi mantido numa clínica psiquiátrica por críticas ao regime, resume tudo: na Rússia moderna, assim como na União Soviética, só um louco é capaz de abrir a boca.

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