sexta-feira, 20 de julho de 2007

O fim de um oligarca

Nos obituários sobre Antonio Carlos Magalhães, que morreu hoje em São Paulo, a marca predominante do respeito e da reverência. A voz dissonante ficou por conta de Daniel Piza, que lembrou em seu blog: morreu um oligarca, mas não a oligarquia:

Ouvia o rádio no carro e soube da morte de Antonio Carlos Magalhães. No Brasil, já escrevi, morrer faz muito bem à reputação. Dizer que ACM "modernizou a Bahia" e que seu filho Luís Eduardo seria um "ACM moderno", como se fosse elogio político, é um equívoco. ACM era o tipo de oligarca que mistura paternalismo e autoritarismo e vem dos tempos da República Velha; era um homem muito, muito rico, sobre quem pesavam suspeitas escabrosas, e que em mais de um episódio se mostrou, digamos, amigo das forças ocultas. Apoiou os militares, dominou a mídia regional, participou de inúmeras armações parlamentares. Espalhou seu nome por toda a Bahia, em muitas obras públicas, colheu abraços de artistas como Caetano Veloso e elogios de jornalistas "de esquerda", e os tucanos fizeram com ele o principal pacto para chegar ao poder. Nada disso significa que a Bahia e o Brasil não poderiam estar melhores se não fosse por ele. E afirmar que era pessoa doce com os íntimos e capaz de dividir ambientes entre os que o amam e o odeiam não torna seu legado mais leve. Por sinal, um oligarca morreu, mas outros seguem firmes e há toda uma mentalidade incrustada no sistema político que é oriunda deles - e se vê nessa ampla confusão entre privado e público, entre laços pessoais e méritos profissionais.

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